Era 1 de abril, mas em Espanha esse não é o dia das mentiras, apesar do ocorrido em Chamartin. O Real Madrid recebeu o Borussia de Dortmund, tal como nesta terça-feira, mas, dessa vez, na primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões numa das mais longas noites de que há memória no Santiago Bernabéu. Uma baliza veio abaixo (vídeo no final) e outra devia ter vindo com o golaço de Karembeu.

Estávamos em 1998, ou seja, 17 anos depois da última final da Taça dos Campeões do Madrid. O Borussia era o campeão europeu, título que obteve ao vencer na final anterior a Juventus. Em Turim, os italianos já venciam o Mónaco e o jogo no Bernabéu ainda não tinha começado porque a baliza do topo Sul caiu.

A poucos minutos do início do jogo, os adeptos começaram a puxar a rede que os separava do relvado. A baliza estava presa a essa rede e cedeu. Caiu perante o espanto de quem via, pelo estádio e pela tv. De imediato, começou a especulação. O jogo seria suspenso? O Dortmund venceria na secretaria? A última situação começou a ganhar validade.

Porquê? Porque era preciso ter balizas de substituição. E, pura e simplesmente, no Bernabéu não existiam. O resto é contado pelos protagonistas à «Marca» e ao «As», jornais que lembram o episódio nesta terça-feira. Os responsáveis do Madrid foram buscar uma baliza de treino à velha cidade desportiva, numa corrida contra o tempo e caricata.

Oito minutos iguais a uma hora

«Demorámos uma hora a fazer três quilómetros, foi uma angústia», contou Agustin Herrerín, o delegado de campo do Bernabéu. Cándido Gómez teve maior influência. Aliás, o «As» até brinca com ele, ao dizer que o herói da sétima Champions do Madrid foi ele e não Mijatovic, que marcou na final.

A história é narrada pelo próprio: «Estava com o meu sobrinho, Juan Manuel, a trabalhar na antiga cidade desportiva. Havia uma feira e nós estávamos a montar um stand. Enquanto descarregávamos o material, vimos surgir Herrerín, Miguen Angel, o que foi guarda-redes do Real Madrid, e oito polícias!»

Os responsáveis do clube chegaram com uma camioneta. «Ali, só cabia um saco para bolas», atirou Gómez. «Herrerín estava branco, se não lhe deu um ataque nesse dia, não lhe dá nunca», riu, em entrevista ao As. Cándido Gómez ofereceu o camião que tinha.

«O sítio onde estava guardada a baliza estava fechado e não havia chaves. Como fizemos? Derrubámos a porta com o camião, de marcha atrás.» Ora, mas ainda faltava ir até ao estádio.

«Foi preciso Deus e ajuda»

«A todo o gás! Demorámos oito minutos, saímos escoltados pela polícia e parecia o presidente do governo, em sentido proibido, depois a passar semáforos vermelhos», recordou Cándido Gómez. O que para o diretor de campo do Madrid foi uma hora, para o homem a conduzir o camião, curiosamente, um Pegasus, foi um instante.

Depois, as imagens mostram o resto. Tirar uma baliza e colocar a outra. «Foi preciso Deus e ajuda», contou Cándido Gómez. Uma hora mais tarde, o jogo começou. Gómez foi convidado para ver o jogo, «mas tinha de trabalhar», já que deixou o stand por montar.

O Real Madrid viria a ganhar 2-0, com um golo de Morientes e outro de Karembeu, que meteu um golaço na baliza de substitução. Não caiu, mas devia. Os espanhóis iam à Alemanha com uma vantagem de dois golos. E uma multa de 600 mil euros. Naquela época...

O Borussia continuaria a reclamar, mas em vão. O Madrid ia à final e, em Amesterdão, um golo de Mijatovic acabaria com o prolongado jejum do clube de Chamartin na Liga dos Campeões. Ao fim de 32 anos, o Real era campeão europeu.

Veja um vídeo do episódio