O modesto Grupo Desportivo da Gafanha, da Nazaré, para não confundir com as outras, viu-se inesperadamente atirado para as páginas dos jornais nesta segunda-feira. Costinha não gostou dos reparos de Jorge Jesus sobre a alegada necessidade do Beira Mar jogar com o Benfica para se galvanizar e, vai daí, não deixou o treinador das águias sem troco.

O jovem treinador deu este exemplo provavelmente pela proximidade de Aveiro à cidade da Gafanha, e ao seu clube, cujas instalações os aurinegras utilizam amiudadas vezes. Afinal, apenas a ria separa dois dos maiores emblemas da região, com estatutos muito diferentes, mas sempre muito próximos ao longo dos tempos.

O oitavo classificado do Distrital de Aveiro agradece a inusitada publicidade e retribui com votos de sucesso para o homólogo do outro lado da água, a quem podem considerar uma espécie de irmão mais velho. Os gafanhões abundam entre os sócios beira-marenses e o contrário também acontece. Há, até, dirigentes em comum.

«Surpreendido? Não. Somos uma boa referência, somos do top... do distrital. Foi, talvez, o primeiro nome que lhe veio à cabeça, sem desrespeito por nós, claro. Quer a equipa tão empenhada num treino connosco, e já tivemos vários, como frente ao Benfica. É legítimo», reconhece Dinis Gandarinho, presidente do Gafanha, ao Maisfutebol.

«Não sei se isto nos dará mais notoriedade, estamos a falar de realidades distintas, mas foi com muito gosto que o ouvi. Aproveito para lhe agradecer ter-se lembrado de um clube tão humilde, mas tão trabalhador, e desejar-lhe a maior sorte. Que consiga safar o Beira Mar da despromoção», acrescenta, de pronto, o líder diretivo.

Ecletismo à moda antiga

Ouvir o presidente falar das modalidades do clube e, sobretudo, dos praticantes até cansa. São centenas de jovens, repartidos por futebol de 11, de 7, futsal, basquetebol e ainda o atletismo quase de volta. «O Gafanha é o que é. Não procuramos ser mais. Temos acompanhado a crise sem entrar nela. Gostávamos de continuar a ser grandes dentro da nossa pequenez», diz, orgulhoso.

«O Beira Mar, como é sabido, tem precaridade de condições para trabalhar e nós somos acolhedores, gostamos de prestar um bom serviço. As relações são boas, mas não tanto como gostaríamos», prossegue, apontando a vontade de receber ex-juniores beira-marenses para o plantel sempre que em Aveiro não fossem aproveitados.

A menina dos olhos dos gafanhões são os iniciados, que lideram o respetivo Nacional, e até bateram os aveirenses no último domingo. «Já há pais que preferem meter cá os filhos em vez de os levar para o Beira Mar. Ao nível da formação já não somos tão pequenos assim. Seremos, até, os segundos ou terceiros do distrito», assinala Dinis Gandarinho.

A cumplicidade é notória, mas a vizinhança também gera, inevitavelmente, algumas rivalidades. Sintomático foi o facto de, há uns anos, os beira-marenses terem escolhido o Avanca para «satélite», porque uma fação mais puritana não tolerou a ideia. Também há quem diga que o sucesso dos iniciados tem a ver com a «fuga» do técnico de Aveiro para lá, arrastando os atletas com ele.

São as bocas naturais fruto de muitos anos de convivência. Alguém leva a mal?

O futuro sem hipotecas

O clube, como a cidade, vive na sombra de Aveiro, pese o desenvolvimento industrial nas últimas décadas. Quando se fala do porto de Aveiro, da praia da Barra, está-se, na verdade, a falar da Gafanha, terra de gente dividida entre atividades do mar, como a pesca do bacalhau, e a agricultura.

O caminho da afirmação pode passar pelo futebol. «Gostaríamos de voltar aos Nacionais, mas isso só deverá ser possível quando a crise passar. Temos os pés bem assentes no chão, não alinhamos em projetos demagogos, e queremos aproveitar ao máximo a chamada cantera