«Sua alteza real D. Luís I, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves,

O meu nome é Harry Hinton, filho de William Hinton e Mary Wallas, senhores do comércio da ilha da Madeira. Para efeitos de denúncia, demando que, a partir de agora, seja identificado como anónimo, se vossa excelência assim o permitir.

Tendo eu regressado recentemente a Portugal depois de tempos a estudar em Londres, trouxe comigo uma bola de football, a primeira alguma vez vista em solo português, tamanha é a complexidade em evoluir da roda, inventada no quarto milénio a.C., para esta esfera rija e resistente ao pontapé que gosto de chamar de ‘fresca mocinha’. Coisas minhas.

Junto com uns rapazes de minha relação e num football field cedido por meu pai levámos a cabo o primeiro match de football em Portugal. A sério, vai para o Guiness. Por azar do demónio e depois de explicar a todos as rules, colocar os keepers na baliza, dizer aos forwards como atuar, aos halfs e aos backs como reagir...perdemos por um goal a zero.

Não perca tempo a perceber o que são keepers, backs, halfs, forwards e goals. Alguém há-de aparecer com o referee para que se esqueça tudo isso.

Até lá, pretendo com esta missiva que se investigue a ação do keeper da minha team, que me pareceu ter conversas suspeitas com dois rapazes de sua relação da outra team. Juraram-me que lhe prometeram dois mil réis em dinheiro e dez bebidas grátis no É pra Poncha, assim que abrir.

Tenha por favor isto em consideração. Se nada se fizer, isto do football nunca terá legs para andar neste país.

PS- Em troca dos seus valerosos serviços, sou capaz de conseguir dar o seu nome a uma obra rodoviária no Porto. Dê o seu best.

Harry Hinton (Anónimo para efeitos de denúncia)»

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«Meu caro rei D. Carlos,

Tudo em ordem? Que tal a família?

Ora bem, não sei se é do seu conhecimento mas realizou-se cá em Lisboa um match de football entre o Sport Lisboa e o Sporting. Foi uma vergonha. Por mim, não havia mais nenhum e nem me parece que volte a haver.

Então não é que o goal da vitória foi marcado na própria baliza por um tal de Cosme Damião? Já não bastava o Sporting ter entrado em campo com oito, repito, OITO jogadores que eram do Sport Lisboa e o jogo ter parado a meio por causa da chuva. Que conveniente. E para rematar, o tal autogolo.

Alguém tem de fazer alguma coisa ou isto do football nunca terá pernas para andar neste país.

Peço-lhe para agir com rapidez, não vá alguém dar-lhe um tiro ou assim. Kkkkkk. #justkidding. #énoix.

Anónimo.»

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«Caro General Carmona,

Acha normal o que aconteceu nos Jogos Olímpicos de Amesterdão? Uma equipa como a nossa, com o mestre Cândido de Oliveira a dar a tática e homens como Roquete, Tamanqueiro (o nome engana, mas é craque), Valdemar Mota e o Pepe – só, e repito, SÓ, o melhor jogador que esta terra alguma vez viu – perca com o Egito? E o Egito sem o Salah? (um dia vai perceber esta). Não acho normal. Tem de haver ali história.

Alguém tem de fazer alguma coisa ou isto do futebol nunca terá pernas para andar neste país. O que era preciso era um Salazar para endireitar isto, embora nem eu perceba ainda bem o alcance desta ideia.

Abraço.

Anónimo.»

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«Dr. António de Oliveira Salazar,

Fiz uma pausa no terço e nos discos da Amália e espreitei o Portugal-Coreia do Norte. Lá ganhámos mas achei aquele início muito esquisito. Bem sei que já me tinha queixado do Costa Pereira depois daquele frango em San Siro pelo Benfica, no ano passado, mas também deveriam investigar este José Henrique. Três golos da Coreia do Norte? Enfim. Alguém tem de fazer alguma coisa.

Explicava-lhe mais um pouco da minha suspeita, mas agora tenho de ir chamar o meu amigo Sócrates que foi para a escola hoje. Nem se lembra que é domingo. LOL.

Abraço

Jorge

Anónimo.»

[Carta revista e aprovada pela PIDE]

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«Amigo Guterres,

Tenho estado um pouco ausente mas depois deste escândalo com o Abel Xavier, que claramente meteu ali a mão de propósito para nos prejudicar, lembrei-me de voltar a escrever e, se ainda for a tempo, deixo-lhe algumas dicas de movimentações suspeitas:

-Investiguem o Futre. Então o homem passa meia equipa do Bayern e chuta ao lado?

-Investiguem o Veloso. Aquela tremedeira no penálti não é normal.

-Investiguem o Baía. Saiu da baliza e já estava toda a gente a ver que o Poborsky ia rematar por cima.

-Investiguem o Secretário. Aquele passe para o Acosta tem dinheiro por trás, claro.

Enfim. Nesta altura, já me parece mais provável que você chegue, sei lá, a secretário geral da ONU do que o futebol português vá ao sítio.

Cumps. O anónimo do costume.

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«Monsieur António Costa,

É um scandale! Scandale! O Eder?! Comment est-ce possible? O Eder?! Le football português assim não vai a aucun côte! A aucun côte!

Enquetêr! Enquetêr!

Anonyme très portugais.»

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«Estoril-FC Porto. Há um vídeo qualquer do Kléber. Mete notas. Vejam lá isso, sff.

Anónimo.»

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«Vagner.

A.».

«O GOLO DO EDER» é um espaço de opinião no Maisfutebol, do mesmo autor de «Cartão de memória».Porque há momentos que merecem a eternidade e porque nada representará melhor o futebol português, tema central dos artigos, do que o minuto 109 de Paris. Siga o autor no Twitter.