«Têm de ser mais claros, se não andamos aqui aos papéis». Sérgio Conceição.

«O VAR não pode ser à vontade do freguês». Vítor Oliveira.

Andamos tanto tempo entusiasmados com os problemas que o VAR vinha resolver, que nem nos apercebemos dos problemas que o VAR vinha criar. As duas frases acima são exemplos que ganharam eco nesta jornada. Uma pesquisa mais atenta, certamente, recolheria vários outros. A conclusão, quanto a mim, é simples: decorridas 13 jornadas, poucos terão percebido corretamente aquilo que é suposto o vídeo-árbitro fazer. Que sejam os protagonistas a assumi-lo é especialmente grave.

Há problemas de comunicação, problemas de protocolo e problemas de interpretação. Vou deixar, propositadamente, de fora estes últimos, para não transformar o texto num «o meu penálti é maior do que o teu», que, que eu tenha conhecimento, nunca, em situação alguma, surtiu qualquer efeito.

O foco vai assim para a comunicação e protocolo. A forma como se está a defender o VAR e as regras que ajudam o VAR a defender o futebol. Tenho visto buracos em ambos.

Comunicação, então. Para quê mesmo tornar público audios e vídeos das conversas árbitro-vídeo-árbitro? Aumentar a transparência, acredito. Como é óbvio, no atual clima crispado, só levaria a que em todos os outros casos em que os audios e vídeos não fossem divulgados levantassem a questão da praxe: porquê?

Até porque o maior problema não têm sido as decisões revertidas (não me recordo de uma decisão que tenha sido mudada para pior) mas as que não são.

Depois, há o protocolo, isto é, as regras pelas quais se rege tudo isto. Se me parece normal, face ao desejado ritmo que deve ter um jogo, que o árbitro não corra ao monitor instalado no relvado para conferir cada fora de jogo assinalado, por que está também impedido de ver se a bola entrou ou não na baliza, para citar apenas o mais óbvio dos exemplos? Se o golo é a parte mais importante do jogo, não era melhor que não restasse qualquer dúvida na cabeça de quem o validou ou não?

Em sentido inverso, lances de interpretação, como um possível penálti ou a cor de um cartão, já podem ser vistos no monitor. Assim sendo, mesmo sabendo que não é o árbitro que pede auxílio ao vídeo-árbitro mas o inverso, por que se abdica desta ferramenta em lances capitais? É como insistir no cálculo mental tendo uma calculadora na mão.

Da mesma forma que compreendo as queixas dos árbitros face ao inflamado clima em que atualmente se joga em Portugal e que dificulta uma tarefa que, por si só, já é das mais complicadas que existem no jogo, também tenho de aceitar que um treinador ou um jogador se indigne por não entender o critério pelo qual se rege tudo isto.

Era demasiado óbvio, desde o início, que esta adição ao jogo nunca resolveria todos os problemas. Não faltou quem avisasse. Até porque, até agora, o maior celeuma não tem estado nas decisões que se mudam, mas nas que ficam inalteráveis. Acabou o escudo do «ter de decidir no momento» e «não ter direito a tantas repetições» e, com isso, o que parecia vir proteger a classe deixou-a ainda mais exposta.

Não acredito em teorias conspirativas de boicote a uma ferramenta que vai ganhando espaço pelo mundo dia após dia. Há, isso sim, muita coisa a afinar, neste que, recorde-se, é um ano de teste. Mas a nota só pode ser positiva quando, pelo menos, quem está lá dentro consiga perceber todos os quês e porquês. Mais grave do que concordar ou não com uma decisão é nem sequer entender por que foi tomada.

Aqui ao lado, em Espanha, começa-se a pedir a introdução do VAR. Zinedine Zidane, por exemplo, já considera inevitável que assim seja. «Haverá menos polémica, mas...», comentou. Tão inocente. Era bom de bola, mas do VAR ainda percebe pouco, está visto.

«O GOLO DO EDER» é um espaço de opinião no Maisfutebol, do mesmo autor de «Cartão de memória».Porque há momentos que merecem a eternidade e porque nada representará melhor o futebol português, tema central dos artigos, do que o minuto 109 de Paris. Siga o autor no Twitter.