Valentim Loureiro justificou o actual momento do futebol português com uma guerra Norte-Sul.
O major anda no futebol há anos suficientes para saber que o argumento é velho e só convencerá os tolos, porque já nem os distraídos irão na conversa.
Mas é precisamente o facto de Valentim Loureiro estar por cá há décadas que torna o uso deste argumento compreensível, se é que posso utilizar tal palavra neste contexto.
Valentim cresceu neste ambiente, sábio (com novo perdão da palavra) na arte de ver para que lado o vento soprava com mais força. Quando lhe deu jeito, içou as velas. Sempre que foi preciso, vestiu a pele de salvador da pátria, apaziguador de guerras alheias.
Sem rodeios: esta quarta-feira é mais um dia lamentável para o futebol português. Por duas razões: os clubes disseram claramente, em assembleia geral, que as ideias da Comissão Disciplinar sobre corrupção, coacção e outras coisas aparentemente sem grande importância podem esperar. Um dia serão discutidas. Talvez. Segundo motivo: o presidente da Assembleia Geral da Liga voltou a criticar publicamente, sem qualquer pudor, a pessoa que lidera a CD, outro órgão da Liga.
Estes dois factos, mais a lamentável sucessão de episódios relacionados com a sexta-feira negra do Conselho de Justiça, provam apenas uma coisa: Valentim Loureiro voltou. Falta-me imaginação ou seria impossível acontecer pior, logo agora, ao futebol português?
Visto por outro lado, os clubes e seus dirigentes não merecem melhor do que o major.
PS1: É evidente que o «apito final» não é uma guerra Norte-Sul, apenas um imenso confronto entre duas pessoas: Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. Este duelo assemelha-se a um entediante combate entre «boxeurs» reformados, empunhando luvas gastas, calções obviamente ultrapassados e desferindo socos no ar, perante uma plateia que ressona.
PS2: A decisão de chamar Freitas do Amaral para liderar um inquérito federativo seria ridícula se não fosse apenas grotesca (nada contra o professor, claro; só não percebe que utilidade prática terá o parecer). Como em muitos outros dias, Gilberto Madail revela-se apenas preocupado em sobreviver no cargo. E nisso, convenhamos, é quase tão bom como Valentim Loureiro.
PS3: Alguém percebeu o que o Secretário de Estado do Desporto quis dizer sobre o Conselho de Justiça?
PS4: Desafio o leitor a fechar os olhos por um minuto e imaginar o futebol português sem Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, Valentim Loureiro e Gilberto Madail (a ordem é indiferente). Pois. Nem em sonhos eles desaparecem.