A cada ano, há mais de 30 anos, os irmãos Daniel e Ozzie Silna, mais o seu advogado, recebem 12 milhões de euros da NBA (qualquer coisa como 17,5 milhões de dólares), sem fazer absolutamente nada. Tudo por causa de um acordo de 1976 que continua em vigor. E continuará, se eles quiserem. Chamam-lhe o melhor negócio da história do desporto. 
 
Todos os anos eles recebem perto de dois por cento de todas as receitas audiovisuais da NBA. Ao todo, estima-se que já tenham ganho 300 milhões de dólares.

A ESPN noticia agora que a NBA vai tentar voltar a negociar com os irmãos Silna, por isso é que o tema voltou à baila. Mas se esta tiver tanto sucesso como as outras tentativas de negociação, vamos continuar a ter história.

Dan e Ozzie Silna são dois empresários ligados à indústria textil, que em 1974 decidiram comprar uma equipa de basquetebol. Adquiriram os Carolina Cougars, que jogavam então na ABA (American Basketball Association), uma das duas Ligas de basquetebol profissional que existiam na altura. Mudaram a equipa para Saint Louis e mudaram-lhe o nome para Spirits of Saint Louis.

Não foi um sucesso. No primeiro ano os Spirits ainda chegaram aos play-offs, mas no segundo os resultados desportivos foram fracos e os de bilheteira ainda piores. Os irmãos Silna ainda tentaram vários negócios com outras equipas, quando já estava à vista a fusão da ABA com a NBA, mas não conseguiram. E quando foi tomada a decisão final sobre as equipas que seriam absorvidas, em 1976, os seus Spirits acabaram por ficar de fora. Os escolhidos da ABA para integrar a NBA foram Indiana Pacers, Denver Nuggets, New York Nets e San Antonio Spurs.

Restavam nessa altura sete equipas na ABA e os irmãos Silna juram que a ideia do tal acordo em vigor até hoje nem surgiu a pensar na sua equipa, mas nos Virginia Squires que, já em crescentes dificuldades financeiras, seriam os candidatos mais óbvios a ficar de fora.

Ozzie Silna explicou assim a história à Associated Press: «Pensávamos que iriam ser absorvidas seis equipas. Disse aos outros donos que estávamos naquilo juntos. Achava que a sétima equipa merecia o mesmo que as outras seis.»

Mas os Squires não aguentaram e fecharam portas antes do fim das negociações. Além dos Spirits, restavam os Kentucky Colonels, propriedade do dono da cadeia «Kentucky Fried Chicken». Os Colonels aceitaram a primeira proposta da ABA: três milhões para fecharem portas e dar o assunto por encerrado.

Mas os irmãos Silna não aceitaram. E usaram para si o tal princípio que tinham proposto para as sete equipas. Eles negociaram receber 1/7 das receitas de televisão das quatro equipas da ABA absorvidas pela NBA. Para sempre. Ou pelo menos enquanto existir a NBA. Foi o contrato que assinaram, e que vale até hoje.

Na verdade, o negócio fala em direitos de «visual media». Razão pela qual mais recentemente os irmãos Silna voltaram a tribunal para reclamar também igual percentagem dos direitos de internet da NBA.

Na altura não era óbvio para muitos, mas o negócio da televisão cresceu exponencialmente, e com ele as receitas televisivas. O atual contrato da NBA com a ESPN e a TNT vale 7.400 milhões de dólares, divididos por oito anos.

Em 1980/81, no primeiro ano em que receberam a sua parte do negócio, os irmãos Silna ganharam 521 mil dólares. E em 2010/11 o cheque foi de 17,450 milhões de dólares, segundo as contas do New York Times. 

Ozzie Silna, diga-se, também admite que ele próprio não viu tão longe. «Nos anos 70 o contrato de TV da NBA estava subavaliado. Vimos algum espaço de crescimento ali. Mas não tínhamos ideia que crescesse tanto», diz.

O advogado dos Silna, Donald Schupak, teve um papel importante no negócio e, por isso, também recebe o seu quinhão. São 10 por cento para ele e 45 por cento para cada um dos dois irmãos, hoje na casa dos 70 anos.

A NBA, essa, vai pagando. E, de vez em quando, lança o isco. Tentou renegociar o acordo no início dos anos 80 e depois no início dos anos 90. Os irmãos Silna responderam não. O ex-presidente dos Indiana Pacers Donnie Walsh dizia que de cada vez que o negócio era mencionado era como se lhe «espetassem um punhal no coração».

Os irmãos Silna continuaram sentados no seu rendimento fixo, e a fazer outros negócios. Também perderam dinheiro. Eles foram clientes de Bernard Madoff e chegaram a contar à «Forbes» que perderam tudo o que investiram no esquema de pirâmide do antigo financeiro, entretanto preso e a cumprir uma pena de 150 anos.

Mas a família de Madoff também veio garantir que os irmãos Silna até foram dos clientes que de facto ganharam dinheiro com o esquema. Eles não dizem quanto perderam com Madoff e, mesmo que tenha sido muito, há mais de onde aquele veio. Afinal, o cheque da NBA continua a chegar, todos os anos.