O meu 10 escreve-se com oito letras: Bergkamp.

O número que vestiu quando recebeu um passe de quarenta metros de Frank de Boer, dominou a bola, meteu-a entre Roberto Ayala e a barreira do talento para um golo que me fez cair de joelhos sobre a carpete da sala.

Vivia-se o Mundial 98 e aquele era o melhor pedaço de selecção nacional que vi alguma vez jogar. A Holanda de Guus Hiddink: formosa e laranja como nunca a tinha visto. Aquele golo, porém... aquele golo era outra coisa. Aquele golo era Bergkamp.

Tudo perfeito, tudo gracioso, tudo fantástico. Tudo lindo. Menos uma coisa... a camisola.

Faltava o número 10 nas costas de Bergkamp. O 10 que vestiu em Amesterdão, o 10 que encantou Londres, o 10 que o tornava completo.

Bergkamp era um 10 da cabeça aos pés, um exercício de talento único. A bola colava-lhe no pé: vinha rebelde e acalmava, tornava-se dócil, tornava-se amável. A partir daí era dele. Podia fazer com ela o que quisesse, e Bergkamp fazia.

Dominava, rodava, metia-se por um lado e ia buscá-la ao outro. Metia-a no espaço vazio, tocava de calcanhar, passava rápido. Velocidade, inteligência, elegância. Sempre. Até ao momento final. Até ao remate. Até à explosão: gooooooooooolo.

O meu 10 é ele. O meu 10 é Bergkamp. Não usava a camisola por fora dos calções, não baixava as meias abaixo do joelho e não deixava o cabelo ao vento.

Não era menino de rua, não sujava o equipamento e não tinha ponta de rebeldia.

O meu 10 nunca esteve no trono do mundo.

Mas não precisa. Porque no meu mundo, o trono é dele.

Dennis Bergkamp, you will always be... the number ten for me!