«O meu pub em Hammersmith» é um bar nesta zona de Londres. Aqui chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de futebol, basquetebol, ténis, F1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório. As bebidas nunca são por conta da casa. Também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer», Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane.

Malta que está ao balcão goza comigo por causa de Benítez. Perguntam-me se, quando Abramovich mandar o tipo embora do Chelsea, contrato eu o «fat spanish waiter». Nem o «empregado gordo espanhol», nem ninguém, o défice em Inglaterra é mais de 8 por cento e a economia está má! Vá lá que os Jogos Olímpicos deram uma ajuda este ano. «E até um britânico ganhou alguma coisa no ténis», disse eu para um inglês. «Bollocks», retorquiu, «esse tipo é um maldito de um escocês». Um espanhol que se calou quando se falava de Benítez levantou a voz. «Nem se compara a Nadal.»

Ora bem, este vosso rapaz nasceu no mesmo dia que Rafa Nadal. Por isso, o espanhol tem sempre um lugarzinho especial aqui no bar. Mas um tipo que está à frente de um pub e atrás de um balcão não pode apenas servir mulheres bonitas. Tem de fazer valer o poster na parede (um tipo a segurar uma caneca com o lema «Beer, helping ugly people have sex since 1862») e vender cerveja com essa ilusão. Com a temporada terminada, um duelo Nadal/Murray não era assunto. Já quem foi o melhor tenista do ano era tema para vender uns copos.

Argumentei: «Murray teve um 2012 melhor que Nadal. Rafa abriu o ano como finalista no Open da Austrália. Perdeu-o, na mais longa final de um major em tempo: 5h53m. Depois veio a terra batida. Venceu Djokovic (Monte Carlo) e acabou com uma série de sete derrotas seguidas em finais para o sérvio. Como era de esperar sempre que está apto, venceu Roland Garros. Pela sétima vez. Recorde absoluto no Grand Slam francês. Lesionou-se, e caiu no ranking ATP (termina em 4º). Não entra nesta discussão.»

Raio do cozinheiro

Então e o escocês? «Murray "só" apareceu em Wimbledon. Claro, andou pela Austrália (semi-final), Dubai (final) e Miami (final). Chegou o grande torneio inglês e Murray tornou-se no primeiro britânico a chegar à final desde 1938! Vencer Wimbledon ficou para outro dia, mas no mesmo relvado disputou a final dos Jogos Olímpicos e ganhou a medalha de ouro! A última vez de um britânico? Foi há 104 anos! Nos EUA, ganhou o primeiro Grand Slam da carreira e mostrou que 2012 era mesmo o ano de toda a afirmação. Acabou com um jejum de 76 anos da Grã-Bretanha para festejar um título masculino no Arthur Ashe Stadium.»

Wimbledon fica a uns 10 kms de carro e a uma dezena de estações de metro, por isso, o campeão na relva é o nosso campeão também. Roger Federer: «Ano muito bom. Venceu no All England Lawn Tennis Club (7º título), voltou a ser nº 1 do mundo e bateu o recorde de Pete Sampras (287 vs 286 semanas como 1º no ranking ATP). Foi Prata nos JO. Se calhar, não foi o melhor tenista do ano, mas 2012 deixou-o um bocadinho mais na frente para ser o melhor de sempre.»

Falta Djokovic. «Venceu na Austrália e esteve sempre em finais e meias-finais. É certo que perdeu o lugar de nº 1 a meio do ano, mas recuperou-o. Finalista em Roland Garros e nos EUA. Terminou 2012 com a vitória no ATP World Tour Finals. No currículo, mais vitórias que derrotas neste ano.»

E então, da cozinha, pergunta o Woody. «Mas quem é o tenista do ano para ti, afinal?»

- Serena Williams! (Charleston, Madrid, Wimbledon, Stanford, J. Olímpicos - singles e pares -, US Open e WTA Championships dão-lhe esse direito. Na história feminina, com 4 Grand Slam e uma medalha de ouro olímpica só há ela e a mulher do Andre Agassi.)

Luís Pedro Ferreira no Twitter