Ao contrário de vários treinadores brasileiros, Cuca não parou no tempo. Procura atualizar-se, evoluir e percebe-se que olha para o futebol europeu.

Por isso mesmo, abdicou da habitual estrutura com 3 centrais que caracterizava as suas equipas.

Cuca é, acima de tudo, um tacticista, algo que está longe de agradar a todos. A sua principal preocupação é apresentar uma equipa bem organizada e equilibrada, em que procura potenciar ao máximo as características dos seus jogadores, sem abdicar de uma ideia de jogo ofensiva.

Eficaz, ainda que, em algumas ocasiões, distante da que mais agrada aos críticos e adeptos. O 4x2x3x1 é o sistema base, denotando-se que estuda o adversário exaustivamente, procurando anular as suas principais virtudes.

Na baliza tem um guarda-redes que ganha jogos (Vítor) bem coordenado com uma dupla de centrais extremamente eficaz no jogo aéreo, rotinada e experiente (Leonardo Silva-Réver, com o veterano Gilberto Silva como alternativa), que terá na (falta de) velocidade e agilidade a principal lacuna. Dois laterais com características diferentes: Marcos Rocha, muito ofensivo, sempre pronto a dar largura e profundidade à direita, mas que oferece muito espaço nas costas; Richarlyson, mais defensivo, preocupado em garantir os equilíbrios defensivos. Dois médios-centro de muito trabalho - Pierre, mais fixo e destinado em exclusivo a trabalho defensivo, o esticador Leandro Donizete ou o cerebral Josué, determinante quando a equipa pretende fazer mais posse e circulação, mais soltos e determinantes no apoio a um tridente de criativos, formado por Ronaldinho, ao centro, e por Bernard e Tardelli, nas alas, jogadores que permutam várias vezes de posição, sempre à espera de explorarem diagonais com e sem bola. Na frente, Jô.

Finalizador cirúrgico, mas, mais do que isso, a referência de um futebol direto que o técnico preconiza, já que é capaz de temporizar, esperando pelo apoio de Ronaldinho ou pelas diagonais de Bernard e Tardelli, como também de receber a bola e procurar a progressão em direção à baliza adversária.

Quando o futebol direto não entra, a profundidade dada por Marcos Rocha à direita, a qualidade técnica e fantástica visão de jogo de Ronaldinho e a capacidade de desequilíbrio e de desmarcação de Bernard ou Tardelli surgem como alternativas.

Quando a equipa está sem a posse de bola, adapta-se às circunstâncias do jogo. Em busca de um resultado, combina momentos de pressão média-alta e de grande intensidade, procurando abafar o adversário. Quando pretende segurar um resultado, a equipa baixa as suas linhas e recorre ao velho estilo de marcação individual, só que sem líbero. Se Ronaldinho trabalha pouco do ponto de vista defensivo, Bernard, Tardelli e Jô são obrigados a aturado trabalho defensivo.

Para quem lhe chama pé-frio, por lhe faltar um título nacional, depois de somar vários estaduais, a conquista da prova rainha do futebol sul-americano poderá ser a porta para o consagrar como melhor treinador brasileiro.

* Rui Malheiro é especialista em futebol internacional e analista da «Wyscout»