A Bósnia é a grande surpresa no lote de apurados para o Mundial do Brasil. Aquele país que tanto sangrou na década de 90 do século passado conseguiu levantar-se e uniu-se à volta do futebol para voltar a sorrir. A Bósnia é, pelos dias de hoje, a única ex-república jugoslava a ter sucesso, aguardando-se o que a Croácia venha a fazer no play-off. Todos os outros países saídos do país que começou a desmembrar-se em 1991 vão ver o Campeonato na televisão.

Há, no entanto, uma força no futebol daquela região que parece estar mais forte do que nunca e que nos leva a perguntar como seria o Mundial com a Jugoslávia, ou os brasileiros da Europa, como gostavam de autointitular-se? O epíteto ainda faz todo o sentido, dado que ali reside um talento especial para tratar a bola e há muito talento a brotar geração após geração. O filão sérvio é um exemplo disso, mas também o kosovar (ainda que o país não seja reconhecido pela FIFA), ou mesmo o macedónio e claro o croata, o esloveno e o bósnio.

O jogo bonito de raiz jugoslava persiste e, na sua essência, está agora espalhado por várias seleções. Aquela Jugoslávia que já não foi ao Euro 92 e que abriu as portas para a Dinamarca ser campeã europeia é a memória mais recente que podemos conceber. Dela podiam ter feito parte jogadores como Djukic, Vujacic, Stojkovic, Mihajlovic, Mijatovic, Stankovic, Savicevic, Jokanovic, Pancev e Kodro, entre outros, já excluindo os croatas e até os bósnios.

Os problemas políticos no país desfizeram o que seria uma história futebolística fantástica. Até 1990, a Jugoslávia tinha participado em oito mundiais, tendo atingido as meias-finais por uma duas vezes (1930 e 1962) e os quartos-de-final em três ocasiões (1954, 1958 e 1990). Logo no primeiro mundial, no Uruguai, conseguiram eliminar o Brasil e ficaram em terceiro lugar, mas a vingança brasileira aconteceria em casa, no Mundial de 1950, com vitória sobre a Jugoslávia.

Quem não se recorda da seleção jugoslava no Campeonato do Mundo de 1990? Terá sido essa, realmente ( o que aconteceu em 1994 já é outra história), a derradeira vez que o mundo observou o futebol bonito de uma grande seleção, que chegou a Itália com o peso de defrontar a super-favorita RFA no Grupo D (os alemães viriam a conquistar o título). Mau arranque com uma derrota frente aos alemães por 4-1, correção com a Colômbia (1-0) e novo triunfo sobre os Emirados Árabes Unidos (4-1).

Suguiram-se os jogos a eliminar e a terrível notícia de defrontar a Espanha. Com Ivkovic, Pancev, Stojkovic, Katanec, Boksic, Savicevic e Suker, a formação orientada por Ivica Osim destronou os espanhóis de Luis Suarez com uma vitória por 2-1 no prolongamento. Dragan Stojkovic marcou os dois golos num jogo louco. Os quartos-de-final trouxeram a Argentina de Maradona e um jogo ainda mais eletrizante, que só seria decisivo nos penalties, com Diego a falhar um dos remates (o tal penalty defendido por Ivkovic), mas com os argentinos a seguirem em frente rumo à final, com uma vitória por 3-2 na marcação de grandes penalidades. Era o fim de uma grande geração que tinha ainda Prosinecki.

J untar Matic, Modric e Dzeko

O exercício é meramente especulativo e impossível de colocar em prática (a não ser numa simulação de consola), mas para quem gosta de futebol não deixa de ser no mínimo interessante: como seria fazer uma seleção com jogadores atuais da Sérvia, Croácia, Eslovénia, Bosnia, Macedónia, Montenegro, Kosovo?

É sabido que a Bósnia ficou em primeiro lugar no Grupo G e por isso já está no Mundial. Também é possível confirmar que o Grupo A contava com a Croácia, a Sérvia e a Macedónia e que só os croatas têm hipóteses de ainda chegar lá, pois ficaram em segundo lugar e vão disputar o play-off. A Sérvia ficou em terceiro e a Macedónia em último. O Montenegro deu luta no Grupo H, mas caiu para o terceiro lugar, enquanto o Kosovo não disputou nenhum jogo porque não é reconhecido pela FIFA.

O caso do Kosovo é talvez um dos mais interessantes, uma vez que há muitos atletas que podiam representar essa seleção, mas como não o podem fazer acabam por jogar por outras equipas, recorrendo à naturalização. É o caso dos «suíços» Xherdan Shaqiri, Granit Xhaka e Valon Behrami, o «sueco» Emir Bajrami, o «albanês» Lorik Cana, o «finlandês» Shefki Kuqi ou até o «indefinido» Januzaj.

Se juntarmos a estes as estrelas da Bósnia, como Dzeko, Pjanic e Misimovic; as da Croácia, como Mandzukic, Kranjcar, Olic, Rakitic, Kovacevic, Simunic, Modric, Srna e Pletikosa; as da Sérvia, como Ivanovic, Kolarov, Fejsa, Stojkovic, Djordjevic e Matic; as da Eslovénia, como Novakovic, Handanovic ou Birsa; e as de Montenegro, como Vucinic ou Vukcevic, é possível pelo menos sonhar com uma seleção que estaria entre as melhores do mundo.