Podíamos e devíamos ter jogado mais contra Israel. Sem cinco dos habituais titulares tínhamos de fazer mais. É certo que houve azar e um erro de um jogador, que tem estado muito bem, ajudou ao resultado. Fomos a única equipa que quis ganhar (era a nossa obrigação), mas tivemos pouca qualidade e um ritmo lento. Apesar de tudo o resultado é injusto.

Portugal tem tido ao longo desta qualificação, excepção feita aos jogos com a Rússia, uma prestação abaixo do esperado. Encontra-se nesta situação por culpa própria. Os empates com Israel e com a Irlanda do Norte são sintomáticos da expressão do nosso jogo. Somos melhores? Claro e tínhamos obrigação de ser superiores e materializar essa superioridade. Mas por vezes falta algo ao jogador português. Já não é de agora. Contra equipas teoricamente inferiores existe, às vezes, algum relaxamento e excesso de confiança, da equipa e dos jogadores, na abordagem aos jogos: somos melhores, vamos ganhar e o golo vai surgir mais tarde ou mais cedo, pensa-se.

O problema é quando não surge e os erros também acontecem. É necessária uma constante concentração competitiva. Contra selecções mais fortes não precisamos de nada. Confiantes e motivados, batemo-nos até ao fim.

Dito isto: o que vale esta selecção? Colocamo-nos num patamar acima do que realmente valemos? A exigência que a selecção tem corresponde à sua qualidade? A nossa selecção está no patamar abaixo das melhores. Não tem a história, não tem a qualidade e as soluções que outras possuem na Europa e no Mundo. Isso quer dizer que somos facilmente batidos? Não. Todas as selecções nos respeitam. Pela qualidade do jogador português, em que Ronaldo é o expoente máximo, pela presença e pelo que conseguimos nos últimos anos, nas fases finais de europeus e mundiais. E pela capacidade de produzirmos para já três bolas de ouro. Mas uma coisa é certa. Temos vindo a perder qualidade individual e naturalmente força colectiva.

Quem são os nossos jogadores de classe mundial? Ronaldo, acima de todos, Moutinho, Pepe e Nani, se e quando ao seu nível, fazem a diferença. Temos segundas linhas com qualidade, mas é curto para os verdadeiros embates.

Formamos um bom onze e damos luta. Tem chegado para as fases de qualificação e fases finais com bons resultados.

O último Europeu é um bom exemplo. A selecção, assente em 12/13 jogadores, foi potenciada e levada ao limite por Paulo Bento. Chegámos à meia-final. Demos tudo.

O campo de recrutamento é curto, existem causas e consequências desta falta de qualidade e quantidade de jogadores portugueses. Vivemos num mundo global e os clubes têm, de uma forma geral apostado pouco nos jovens portugueses, preferindo outros, mesmo jovens, de nacionalidades distintas, o que tapa o caminho do jogador português.

A agulha está a virar-se para eles, mas demora a ter resultados. Quem pagou a factura? As selecções jovens e naturalmente a selecção principal. Esta situação não é de agora e devia ter tido a necessária intervenção da FPF.

Em 1989 e 91 houve trabalho feito e fomos campeões do mundo. Vivemos dessas gerações durante anos. Mas acabou. É preciso estar em cima para que haja continuidade. Para apresentar qualidade, há que trabalhar e criar condições para que tal aconteça. A nova selecção de sub 21 cria esperança. Apresenta mais qualidade e outro nível competitivo, com melhorias significativas para os próprios, para os clubes e para a selecção. Todos sabemos que com melhores jogadores é possível atingir outro nível.

A exigência tem que estar equiparada com o que existe e a possibilidade de ter sucesso também. Portugal apesar de ter um dos melhores do mundo não pode por si só ser candidato. Lutar pela vitória sim. Com a consistência e organização que tem revelado em cada jogo, sem pensar em títulos. Por muito que custe, existem outras selecções mais bem preparadas, com mais qualidade para pensarem nisso. A nós, cabe-nos correr por fora. Somos respeitados pelos outros e dentro do possível fazermos com que as nossas derrotas (a acontecer) sejam pelo excelente comportamento e mérito dos outros que pelas nossas falhas e distracções. E isso tem acontecido.
 
A excepção foi em 2002. Vem à memória a frustante participação no Mundial, em que estive presente. Eliminados logo na primeira fase, não fomos, apesar da qualidade existente, capazes de fazer melhor. Culpa própria. Daí para a frente temos tido bons desempenhos e elevado o nosso nome. Por muito que se queira há que pensar quais as condições existentes para melhores classificações.

Espero que a nova geração que está aí traga mais qualidade e quantidade para os treinadores nacionais e possa elevar o nível de expectativa. O que podemos melhorar? Concentração competitiva e pensarmos sempre no colectivo. Hoje em Coimbra temos de jogar com qualidade. Vencer bem e com alegria porque as dificuldades maiores vêm a seguir.

Força Portugal!

Acredito que vamos voar para o Brasil para contentamento de todos (digo eu…).