O desporto continua a permitir histórias fantásticas de superação que devem servir de inspiração para as nossas vidas. Os heróis do dia-a-dia aparecem como anjos e obrigam-nos a colocar em perspetiva todas as adversidades que possam surgir pela frente. Se chegar a atleta de elite é coisa para poucos, fique a conhecer os exemplos de seres humanos extraordinários, que apesar da surdez não se cansaram de lutar até que alcançaram o sucesso, fazendo das suas fraquezas forças.

Um dos mais recentes exemplos é Derrick Coleman, jogador de futebol americano dos Seattle Seahawks e o primeiro jogador surdo da NFL. Surdo dos dois ouvidos desde os três anos, nunca conheceu obstáculos e em 2013 assinou contrato profissional com a equipa que poderá vencer o campeonato este ano.

O jovem Coleman, 23 anos, é o protagonista de um anúncio publicitário criado pela prestigiada Saatchi & Saatchi, de Nova Iorque, para a Duracell, que em pouco tempo está a tornar-se viral. Conta a sua história e mostra como é possível um surdo chegar a ser idolatrado pela mais ruidosa claque do mundo (que até quebra recordes do guinness).



No último sábado, o jogador surdo viu a sua equipa vencer um dos adversários mais duros da prova, os New Orleans Saints, e vai disputar no próximo domingo a final da conferência com os San Francisco 49ers.

É curioso que foi uma invenção da sua mãe a abrir as portas do sonho. Coleman não sabia como poderia jogar futebol com aparelhos nos ouvidos, mas May Evans pegou numa das meias calças, rasgou-a para caber na cabeça do filho e tapar os dispositivos, impedindo-os de cair. Derrick (agora com 1,83 metros e 105 quilos) nunca mais deixou de usar essa estratégia, embora mais refinada, e 20 anos depois de lhe ser diagnosticado uma doença genética incurável que o levou à surdez o fullback vai mesmo estar na final do desporto mais amado nos Estados Unidos.

No campo, Derrick pode ter dificuldades em ouvir os colegas e quando é escolhida uma tática de ataque o quarterback tem de a explicar a todo o grupo e depois a Coleman, que tem de ler os lábios para entender o que é dito. Formado na Universidade da Califórnia, teve um percurso fabuloso nas equipas desse escalão, mas não conseguiu dar logo o salto para a NFL, sendo mesmo rejeitado pelos Baltimore Ravens em 2012. Não desistiu de lutar, passou um ano nos Minnesota Vikings e foi dispensado, mas voltou a não baixar os braços e em novembro de 2012 assinou pelos Sehawks.



A história de Derrick Coleman pode ser única na NFL, mas não no desporto. Também nos Estados Unidos falou-se há uns anos de Lance Allred, um surdo que chegou à NBA, onde vestiu a camisola dos Cleveland Cavaliers.

Com 2,10m de altura, também ganhou destaque no desporto universitário, alcançando médias de 17,7 pontos e 12 ressaltos por jogo. No draft de 2005 não foi escolhido por nenhuma equipa, o que o levou a emigrar para a Europa. Representou o Rouen e o Bourg-en-Bresse, em França, e o Club Bàsquet Llíria, em Espanha, antes de regressar ao seu país para jogar na Liga de Desenvolvimento da NBA, mais concretamente no Idaho Stampede, uma filial dos Portland Trail Blazers.

Em 2008 assina contrato com os Cleveland Cavaliers de Lebron James e tem a hipótese de jogar 18 segundos com os Orlando Magic. Faz mais 14 segundos com os Milwaukee Bucks e finalmente nove minutos ante os Detroit Pistons, perdendo sempre. O jogador surdo conseguia chegar à NBA, mesmo sem grande destaque e com dispensa garantida no final da época.

Aos 32 anos, Lance continua a inspirar e o seu livro (Longshot: The Adventures of a Deaf Fundamentalist Mormon Kid and His Journey to the NBA) é uma inspiração para muitos atletas com deficiência.



Ainda no basquetebol, mas na Europa, existe o caso de Miha Zupan, jogador esloveno que atualmente representa os turcos do Uşak Sportif, uma das formações que participa na Euroliga. Surdo dos dois ouvidos desde que nasceu, é internacional pelo seu país e chegou a ser cobiçado por várias equipas da NBA.

Aos 31 anos, os seus 2,05m permitem-lhe ser um jogador temivel, apesar de usar aparelhos auditivos nos ouvidos. «No início foi complicado, mas a tecnologia evoluiu muito e à medida que o tempo passa os aparelhos estão cada vez mais sofisticados. Consigo ouvir perfeitamente os adeptos e as instruções do treinador», contou numa entrevista recente, reconhecendo que também desenvolveu a técnica de leitura de lábios. 

Zupan é um lutador dentro e fora de campo. Esforçou-se muito por chegar longe no desporto e representou com orgulho o seu país no último Mundial de basquetebol, onde teve a oportunidade de defrontar os Estados Unidos.



Finalmente, também no ténis há motivos de inspiração, com a história de Lee Duck-hee, que chegou a sensibilizar o super-campeão Rafael Nadal. Um dos melhores jogadores juniores do Mundo, o coreano de 15 anos é o mais jovem jogador do ranking ATP e recentemente teve oportunidade de conhecer o seu ídolo, que não se cansou de o elogiar nas redes sociais.


Surdo de nascença, o tenista sul-coreano diz que o único inconveniente que sente no jogo é quando responde a bolas erradas do adversário, por não conseguir ouvir o juiz da partida. «Não consigo ouvir as indicações sobretudo quando gritam out, por isso muitas vezes continuo a jogar. É difícil, mas nada de especial», confessou em entrevista ao «Indian Express».

Ser surdo no mundo do ténis não é sinónimo de fracasso, como é fácil de comprovar pelo exemplo de Charlotte Cooper, que ficou surda aos 27 anos e mesmo assim conseguiu vencer o Torneio de Wimbledon cinco vezes e conquistou duas medalhas olímpicas no final do séc. XIX.

Fica então o último momento de inspiração com Lee Duck-hee em ação.