Adorava beber uma cerveja antes de cada jogo - «só uma, com duas já nem saía do balneário» - e a arte da provocação corria-lhe nas veias.

«Ouvi toda a vida uma falsidade absurda. Todos escrevem que aos 18 anos roubei o Mercedes ao diretor desportivo do Schalke. E que andei a fazer piões no relvado, enquanto os meus colegas treinavam. Isso é uma infâmia, nunca aconteceu».

O desabado ocorreu há três anos, durante uma entrevista fantástica à revista 11 Freunde. Wolfram Wuttke, o rebelde alemão, repôs a verdade. «O carro não era um Mercedes. Era um VW Scirocco. Peço-lhe que escreva isso e restitua a minha honra».

Wuttke faleceu no último domingo, vítima de cirrose hepática. Tinha 53 anos e uma carreira muito inferior ao talento.

«Se eu fosse um tipo diferente tinha feito mais de 50 jogos pela seleção da RFA. Louco como sou, ou fui, acho que quatro me chegaram perfeitamente. Foram quatro jogos bons. Outros fazem 50 jogos e 49 são uma porcaria», atirou o falecido Wolfram Wuttke à mesma publicação.   

Médio robusto e tecnicamente evoluído, Wuttke adorava rir-se das próprias excentricidades. Isso não o impediu de ser vice-campeão no Euro88 e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Seul, no mesmo ano.
A carreira de Wolfram Wuttke:

. 1976-1981: Schalke 04
. 1981/1982: Borussia Monchengladbach
. 1982/1983: Schalke 04
. 1983-1985: Hamburgo
. 1985-1990: Kaiserslautern
. 1990-1992: Espanhol
. 1992-1993: Saarbrucken

. 4 jogos e 1 golo pela seleção A da RFA

Jogou sempre em clubes de média/alta dimensão na Alemanha, incompatibilizou-se com vários treinadores, assumiu o descontrolo no consumo de álcool e tabaco, fugiu para Espanha (1990 a 1992) em busca de uma sociedade mais aberta.

Aos 31 anos fraturou o ombro e deixou os relvados. Como treinador teve só duas experiências, já depois de ter vencido um cancro na mama (muito raros nos homens), ter visto a sua loja de desporto ir à falência e suportado um divórcio milionário.

«O senhor Ernst Happel (treinador no Hamburgo) era dos poucos a compreender-me. Dizia-me muitas vezes: ‘quando estiveres chateado faz uns remates à baliza e vai para o balneário ser massajado. Nem me apareças à frente’.»

Há muitas histórias sobre esta incrível personagem. Nem todas verdadeiras, quase todas hilariantes.

«Quando jogava no Kaiserslautern acusaram-me de ter visitado um festival de vinho. A minha resposta foi dura, revoltei-me: ‘Isso é impossível, eu sou extremamente fiel à cerveja’»
.

Imagens de Wolfram Wuttke no Espanhol:



Chamava «tirano» a Jupp Heynckes e «avozinho querido» a Erns Happel. Jogava muito, aproveitou o futebol da forma que quis e nunca foi rico.

«Tenho um apartamento de 70 metros quadrados, a 30 quilómetros de Dortmund. Adoro abrir a janela da cozinha, beber uma cerveja e fumar um cigarro enquanto olho para a rua. Sou um tipo de gostos simples».