O ano de 2014 foi rico em surpresas no ténis masculino. Dois nomes ousaram contrariar a tendência verificada nos anteriores 16 torneios do Grand Slam, onde Djokovic, Federer, Nadal e Murray não deram espaço à concorrência.

Logo a abrir a temporada Stan Wawrinka surpreendeu ao ganhar o Open da Austrália. A vitória do suíço reacendeu a esperança, principalmente entre os tenistas menos cotados: sim, era possível não ganharem sempre os mesmos!

E isso voltou a ser comprovado. Em setembro, Federer e Djokovic estavam em rota de colisão para a final do Open dos Estados Unidos. Mas, contra as expetativas, caíram nas meias-finais, eliminados por Marin Cilic e Kei Nishikori. Se o primeiro é apenas um ano mais novo do que o sérvio número 1 mundial, o segundo é um dos nomes provenientes de uma nova geração que parece apostada em tomar de assalto os lugares da velha guarda do ténis.

Exceção à regra ou início de uma nova era? O Open da Austrália, que começa esta segunda-feira, pode ajudar a definir uma resposta. A MF TOTAL esteve à conversa com António Van Grichen, treinador que orientou antigas líderes do ranking feminino como Victoria Azarenka e Ana Ivanovic. Atualmente a trabalhar numa academia na Florida (Estados Unidos) e em part-time com Marcos Baghdatis (antigo número 8 mundial), o treinador português antecipou o primeiro Grand Slam da temporada, que se realiza entre 19 de janeiro e 1 de fevereiro.



Os favoritos

« Roger Federer e Novak Djokovic partem em vantagem», aponta António Van Grichen, que coloca Andy Murray, Rafael Nadal e o vencedor de 2014, Stan Wawrinka, logo a seguir no lote dos favoritos.

Se o escocês teve um ano de 2014 em que andou constantemente à procura da melhor forma após a operação às costas a que se submeteu ainda em 2013, Nadal quase não competiu desde o torneio de Wimbledon, em julho passado. Falhou o último Grand Slam da época (Open dos Estados Unidos) devido a lesão no pulso direito e, depois, foi operado ao apêndice no início de novembro. Os sinais evidenciados pelo espanhol já este ano não são animadores.

«Em condições normais, o Nadal também seria favorito. Mas não parece estar na melhor forma. No entanto, é sempre um ponto de interrogação. Após dois ou três jogos, pode reencontrar-se como o seu jogo e, ganhando confiança, é um perigo», avisa o treinador.

Outros favoritos e possíveis surpresas

Em 2014, nomes como Marin Cilic, Grigor Dimitrov, Milos Raonic e Kei Nishikori conseguiram fixar-se entre os dez primeiros do ranking ATP. Se o primeiro é baixa em Melbourne Park (lesão no ombro), os restantes podem causar problemas aos crónicos favoritos. «É bastante provável que consigam chegar longe no torneio, mas acredito que particularmente o Nishikori tem condições para ganhar um Grand Slam este ano», defende o treinador português.

Se a lei dos mais fortes prevalecer, os oito primeiros cabeças de série do torneio começam a medir forças entre si nos quartos de final. Djokovic e Raonic estão em rota de colisão para essa ronda e o mesmo sucede com Federer e Murray, por exemplo.

Van Grichen alerta, no entanto, que o Open da Austrália pode trazer algumas surpresas. E explica: «Este é um Grand Slam onde todos os jogadores estão bastante motivados. Vêm das férias e de um ou dois meses de treino, onde estiveram a trabalhar para melhorar nos pontos fracos e no sentido de maximizar os pontos fortes. É possível que haja uma ou outra surpresa nos quartos de final. Para ganhar o torneio? Não acredito. Penso que o vencedor vai ser um jogador do top 10», observa.



Adolescentes a seguir com atenção

Com menos de 20 anos, o australiano Nick Kyrgios e o croata Borna Coric são apontados como duas das maiores promessas do ténis mundial. Kyrgios (n.º53), aliás, protagonizou uma das maiores surpresas de 2014, ao eliminar Rafael Nadal nos «oitavos» de Wimbledon, enquanto Coric (91.º) foi recentemente eleito a estrela ATP do futuro.

Apesar de considerar ser ainda muito cedo para se esperar grandes feitos destes dois tenistas, António Van Grichen não descarta a possibilidade de estragarem os planos a alguns favoritos.

«São dois nomes que devem ser seguidos com interesse e acredito que podem batê-los uma ou outra vez, como já o fizeram. Mas não me parece que possam ganhar um Grand Slam ou entrar no top 10 nos próximos tempos. É muito cedo. Os jogadores estão a ter bons resultados em idades mais avançadas e a transição para o ténis profissional é muito complicada. Nos profissionais não há pão para malucos. Não se dá nenhum ponto», explica.

Os portugueses

João Sousa, 55.º do ranking ATP, é o único representante luso em ação em Melbourne Park. Na primeira ronda teve encontro marcado com um tenista da casa, Jordan Thompson, de 20 anos, e cotado mais de 200 lugares abaixo do português. Sousa venceu em três sets (6-4, 7-6 e 6-4).

Após a vitória, o tenista natural de Guimarães terá de defrontar na ronda seguinte o eslovaco Martin Klizan, 32.º cabeça de série do torneio. «Penso que o João tem ténis para ele. Onde pode chegar? Tudo se resume à primeira ronda. Depois disso, nunca se sabe», diz Van Grichen.

O torneio feminino

Serena Williams tem dominado o circuito feminino nos últimos anos. Com 18 títulos do Grand Slam no palmarés, sozinha, a norte-americana tem apenas menos quatro majors conquistados do que todas as outras tenistas no ativo.

Este ano, volta a partir como o estatuto de grande favorita à conquista do sexto Open da Austrália da carreira. «Tudo depende dela, mas há outras favoritas: a Simona Halep, a Maria Sharapova e, quem sabe, a Ana Ivanovic * e a Petra Kvitova», aponta António Van Grichen, considerando só haver no circuito feminino uma tenista capaz de encostar Serena às cordas: Victoria Azarenka. «Não digo isto por ela ter trabalhado cinco anos comigo, mas, neste momento, não está na melhor forma.»

Depois de ter chegado ao topo do ranking e ganho torneios do Grand Slam, a bielorrussa caiu em 2014 para o 44.º posto do circuito WTA. «O que se passou? Esteve cinco anos comigo a dar tudo e, depois disso, ainda esteve mais quatro a trabalhar intensamente. Tudo isto provoca um desgaste mental e físico grandes. Acredito que tem ténis e mentalidade para regressar ao topo, mas não para já.»

* Ana Ivanovic foi eliminada esta segunda-feira de madrugada. A tenista sérvia perdeu com a checa Lucie Hradecka.

Principais ausências

Marin Cilic é uma das principais baixas, devido a lesão no ombro direito. O Open da Austrália perde assim o vencedor do último torneio do Grand Slam de 2014. O mesmo sucede com Juan Martin Del Potro. O argentino ainda não está totalmente recuperado de uma lesão no pulso esquerdo e, por precaução, anunciou a desistência do torneio.

No quadro feminino, a vencedora da edição de 2014, Na Li, é a grande ausência. A chinesa retirou-se no final do ano passado.



Open da Austrália em números

200 mil garrafas de água e 150 mil gelados deverão ser vendidos ao longo das duas semanas de competição. É a forma encontrada para combater temperaturas habitualmente acima dos 30 graus celsius;
50 mil bolas deverão ser usadas no torneio (12 500 latas);
Serão distribuídos 25,8 milhões de euros em prémios de jogo. Os vencedores dos torneios masculino e feminino na variante de singulares arrecadam 2,2 milhões cada.
576 tenistas em ação nas primeiras rondas de todas as variantes (singulares, pares e pares mistos);
Em 2012, o torneio registou uma assistência recorde de 686 006 espetadores.