As primeiras jornadas da Liga revelaram uma queda do número de espectadores em Alvalade. Quinze por cento, dizem os números. Não me surpreende. Diria até que foi feito muito trabalho de bastidores para conseguir este belo número.

Miguel Veloso, por exemplo. Pediu para os adeptos que costumam assobiar ficarem em casa. E eles ficaram. Conclusão natural: no clássico com o F.C. Porto estiveram 35 mil espectadores nas bancadas. A boa notícia é que não houve assobios.

Bem vistas as coisas o médio queria mesmo é que os sportinguistas não assobiassem, não contestassem, não exigissem mais. Que se demitissem da função de adeptos. Eles, claro, demitiram-se. Até porque assobiar costumava ser um direito deles.

Como apreciar um espectáculo também costumava ser um direito deles. No fundo, no fundo, mas bem lá no fundo, era disso mesmo que o futebol se tratava: um espectáculo para entreter. Até que Paulo Bento se lembrou que não, que não era bem isso.

Disse o treinador que o futebol é um jogo para ganhar. Quem quer um espectáculo deve procurar o cinema. Os adeptos com um pingo de sanidade mental, que ainda olham para o jogo como um lazer, seguiram a recomendação: procuraram o cinema, naturalmente.

No meio de tudo isto, o Sporting tornou-se o clube grande que perdeu mais adeptos no estádio neste início de campeonato. Ficaram em casa, foram ao cinema, partiram para parte incerta, não vale a pena tentar saber. Mas que desapareceram, desapareceram.

Desaparecem aliás todos os dias. Como eu também desapareceria no lugar deles. Mas não ia sozinho: levava comigo a indignação. Pelo dinheiro gasto, aliás, mal gasto, como está bom de ver, e por me sentir desprezado na minha condição de adepto.

Ora tenho para mim que é isso que está a acontecer ao Sporting: tem cada vez menos apoio e tem cada vez mais um apoio deprimido. Cansado de ouvir dizer que a equipa não está preparada para lutar pelo título, para jogar bem ou para ser assobiada.

Por isso perde adeptos e sobretudo perde adeptos militantes. No estádio, nas lojas, nas audiências. Naturalmente. Quem quer aturar espectáculos previsíveis e mesmo assim bater palmas como se não houvesse amanhã, procura o programa da Júlia. Onde é pago.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as semanas