No final do jogo foi pedida a Scolari uma justificação para a derrota. O brasileiro atirou, formoso e seguro: «é a vida...».
Podia ser um «paciência», podia ser um «olhem, azar», podia ser um «falem aqui para a minha mão a ver se vos ligo».
Mas não. «É a vida...».
Se fosse um outro treinador teria dito «é o futebol». E nós pensaríamos «são onze contra onze, a bola é redonda, tem razão sim senhor, é o futebol». Para Scolari não.
Para Scolari é mais do que futebol. Para Scolari é a vida.
Nenhum outro treinador poderia dizer que é a vida e fazer-nos crer que é mesmo a vida.
Se Mourinho, por exemplo, dissesse que é a vida, nunca seria a vida. Quanto muito seria a vidinha. A vidinha dele, dos jogadores dele, dos adjuntos dele.
Vindo da boca de Scolari, é definitivamente a vida.
Olha-se para o brasileiro dizer que é a vida e vê-se um comerciante a falar. Ou um pescador. Shôr Diogo, a maçã reineta este ano vende-se pouco... «É a vida, amigo». Shôr Gonçalo, o peixe-espada anda mau de se apanhar... «Anda, anda. É a vida».
No fundo quando Scolari fala não é um treinador que se ouve. Ouve-se um homem, como eu e o leitor, mas mais velho e menos bonito: uma figura paternalista a lamentar as voltas do mundo.
Um homem que tem que lutar todos os dias para colocar o pão nas mesas dos filhos. Naturalmente fatalista.
Ora por isso aquele «é a vida» adquire todo um outro sentido. Dito por Scolari, trata-se de uma forma de humanizar o futebol.
Que é no fundo o que Scolari faz bem. Junta o futebol à volta da família, reza uma oração e espera que corra bem.
A partir de agora, leitor, se ouvir um treinador dizer que é o futebol, não se engane: trata-se de um mau pai de família.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreverá aqui todas as semanas
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