Felizmente sou salvo no fim. Pela morte, precisamente. A ideia de morrer por amor arranca-me um sorriso que me deixa logo mais animado. Bem hajam por isso. Que Deus os guarde por muitos anos. Mortos, claro.
Mas é como lhe digo, leitor. Gostava de ser romântico. Sobretudo depois de ouvir José Cid cantar «Romântico ma non troppo». A ideia de ter um ponto de contacto que seja com ele assusta-me. Acho que me entende.
Era nesta altura que me tornava um romântico incorrigível. Então revejo o «Titanic». Ela chora. Eu ressono. Ela fica chateada. Eu torturo-me. Adivinho que vem aí dor de cabeça. Não ser romântico só me prejudica.
O amor anima-me. Mais do que isso não, obrigado. Por isso afirmo-me contra qualquer tipo de romantismo. Na vida, sim. No futebol, também. Da forma que o jogo está o romantismo devia ser proibido. Sobretudo o excesso de romantismo.
Por isso é que no próximo fim-de-semana vou torcer pelo Real Madrid no clássico do futebol espanhol. Sempre gostei do Barcelona, mas desta vez desculpem, não consigo. Sou merengue, mesmo que já me doa a barriga só de imaginar.
Sempre gostei do Barça porque acho que é uma ideia bonita. Um clube que representa a região, que a defende, que a afirma. É verdade que sempre houve ali algum romantismo. Mas era controlado. Não me chocava.
Desde que Guardiola tomou conta da equipa a coisa piorou. Enchurradas de futebol ofensivo. Goleadas atrás de goleadas. O melhor ataque, a melhor defesa, uma média superior a três golos por jogo e a possibilidade de sentenciar o título antes do natal
Tudo isto embrulhado por um técnico catalão, que conhece como ninguém a cultura do clube, e por uma equipa jovem, mas tremendamente personalizada. Com selo da casa. Vários jogadores jovens, formados no clube e com a cultura catalã no sangue.
Com um público que se revê na equipa, enche o estádio e desfruta de espectáculos inigualáveis. Em comunhão com uma coisa muito próxima da perfeição. Desculpem lá, mas o Barça tornou-se insuportável. Tanto romantismo já é pieguice.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as segundas e quintas-feiras
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