Os responsáveis do Guinness, num assomo de lucidez invulgar, sobretudo neles, justificaram não aceitar recordes provocados pela morte e pelo sofrimento.
A notícia deixou-me a pensar. Não é frequente. Mas aconteceu. Também por isso escrevo sobre ela. Para que raio servem este tipo de recordes?
Para nada, acho. Mas engano-me: servem apenas para iludir as pessoas que não sabem qual é o lugar delas no mundo. Que é praticamente nada. Enganei-me por pouco.
Neste caso serve para iludir os pais da criança, um antigo toureiro e uma empresária, que puseram o filho de onze anos a matar animais em vez de estar a brincar na rua.
Infelizmente a sociedade está cheia de casos como este. Menos sangrentos, é verdade, mas tão desequilibrados quanto este. Gente que se ilude facilmente, lá está.
O Porto, por exemplo, orgulha-se de ter recebido o maior desfile de Pais-Natal. O que é admirável. O Porto é uma cidade muito mais encantadora desde essa altura.
O Benfica, esse, orgulha-se de ser o clube com maior número de sócios pagantes. O que é admirável outra vez. Proponho uma quota gratuita para celebrar o feito.
Não, proponho duas. O clube com maior número de sócios pagantes merece o dobro do que se considerar razoável. Mesmo que tenha perdido a noção do seu lugar no mundo.
Porque no fundo parece-me isso: um caso de procura de glória onde ela raras vezes aparece. Um pouco como aconteceu com o país na formação da maior bandeira humana.
A não ser que se considere uma glória escrever o nome ao lado do italiano recordista de melancias esmagadas com a cabeça. Ou da brasileira com maior número de piercings.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as semanas
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