Valdano disse recentemente, ao Jornal de Notícias, que os treinadores preferem ter onze soldados a onze poetas. O que é curioso. Podia dizer que preferem ter onze soldados a onze estrategas. Ou onze carregadores de piano a onze pianistas. Podia, mas não disse.

Disse exactamente assim: onze soldados a onze poetas. O que numa interpretação livre, mas não totalmente desprovida de sentido, pode querer dizer que indirectamente Valdano compara o futebol mais a um campo de batalha do que a um espaço de arte.

O futebol, ainda numa interpretação livre, deixou de ser um espectáculo para se tornar uma guerra. Também ela fraca, claro. Até porque não acredito que exista arte na guerra. Mas isso sou eu que nunca fui à tropa. E também não li o tratado militar de Sun Tzu.

O que não me impede de concordar com Valdano, mesmo sem saber se ele foi ou não à tropa. Basta observar como os jogadores estão presos a tarefas militares. Valdano disse o que disse em forma de lamento. Ele que é um romântico. Um homem fora do tempo e do lugar.

Sobretudo do lugar. Foi o último a colocar o Real Madrid sob uma ideia grande e foi corrido ao primeiro fracasso. Mesmo que o conceito de galácticos tenha tido momentos brilhantes. Pior do que isso, o Real Madrid entregou-se depois a Luxemburgo e Capello.

O italiano, que já tinha sido campeão espanhol com um futebol chato, chato, chato, voltou para completar a obra: títulos com um futebol chato. Algo impossível em Camp Nou, por exemplo. A equipa até pode jogar mal, e às vezes joga, mas não é deliberado.

Nunca por vontade própria. Ninguém me tira da cabeça, aliás, que a Espanha não seria o que é sem os catalães Xavi, Iniesta ou Fabregas. Por isso o Barça é mais do que um clube. É um conceito grandioso que merece o aplauso da plateia. Como Valdano gosta. Ele que teve o azar de gostar do clube errado. Ficava muito melhor em Barcelona.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreverá aqui todas as quintas-feiras