PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«YOUR FINAL» - Henning Hesse e Niels Eixler  

Eu sei. Vivemos tempos agitados, propícios a manchetes escandalosas e conversas acaloradas.

Eu sei, todos sabemos. É irrecusável, e irresistível, falar sobre o pack camisola+jantar+museu, apontar o dedo e chamar nomes feios.

Eu sei, por D10S. Ninguém fecha os olhos perante mais uma acusação do presidente valentão, defensor dos indefesos e justiceiro implacável.

Eu sei, caros amigos. Escutar Jesus a colocar Vitória deste tamanho é uma catchphrase quase tão deliciosa como a de Michelle Dubois, a da Resistência Francesa no Allo Allo.

«Listen Very Carefully, I Shall Say This Only Once».

Eu sei, é de loucos. São dias em que comentadores televisivos têm o mesmo peso pesado dos homem que marcam golos.

Por tudo isto, eu sei, que o convite que lhe faço é indecoroso. Indecente. Mas vamos?

Vamos ver resumos de futebol, bom futebol, e recordar o nome dos verdadeiros artistas?

Vamos analisar aquele remate, aquele passe soberbo, o drible que nos conduz à memória do futebol de rua?

Vamos falar sobre o erro do lateral direito e o jogo maravilhoso do médio centro?

Vamos ao futebol?
 

PS: «Um Homem Irracional» - Woody Allen
Woody Allen escreve, realiza e conduz Joaquin Phoenix (Abe Lucas) pelos dolorosos caminhos do alcoolismo e da infidelidade. Lucas é um professor de Filosofia com tanto de genial como de problemático. Irreverente, disposto a afrontar convenções e ideias adquiridas, transporta o seu espírito livre para uma universidade aparentemente tradicional e convencional. A história tem surpresas e é bem contada. Não é Allen na sua melhor forma, mas a película não desmerece a obra superlativa do autor. O que falta? Talvez o próprio Woody num dos principais papéis.

 


SOUNDCHECK:

«REPLAY» - Trio Esperança

Raras composições descrevem tão bem a ligação emocional do adepto ao jogo. Apetece ouvir uma e outra vez, escutar o refrão em repeat, cantar até que a garganta nos doa. O futebol é um mundo riquíssimo, embora simples, e o Trio Esperança foi capaz de unir essas realidades, aparentemente contraditórias.

A música foi lançada em 1974 e passou a contar das playlists de várias emissoras em dia de relato. Em Portugal, nos anos 80, toda a gente conhecia a letra de cor: «É gol, que felicidade!»

«Faltavam só cinco minutos pra terminar o jogo
E o adversário fazia uma tremenda pressão
Sofria como um louco com o rádio colado ao pé do ouvido
Mas a nossa defesa é segura, é mesmo de seleção
Meu time bem armado, tranquilo, era final, era uma decisão
Até que o juíz apitou falta a favor do "mengão"

Paulo César prepara o seu chute fatal
Na barreira confusão é geral
Atenção( thururu thururu thuthu)
Preparou (thururu thururu thuthu)
Correu (thururu thururu thuthu)
E chutou

É gol...
Que felicidade!
É gol o meu time é alegria da cidade...

(e atenção que nós vamos repetir o gol...)

Atenção( thururu thururu thuthu)
Preparou (thururu thururu thuthu)
Correu (thururu thururu thuthu)
E chutou

É gol...
Que felicidade!
É gol o meu time é alegria da cidade...»


 

PS: «Different Class» - Pulp
Há duas décadas, e num ano particularmente forte para a indústria discográfica, via a luz um dos álbuns da minha vida. Jarvis Cocker e sus muchachos criaram uma das melhores peças de música jamais vista. 

O dia de lançamento fez 20 anos a 30 de outubro. Esta é a minha homenagem às horas a fio em que eu e os meus inseparáveis João Castro e Jorge Santos trauteávamos Common People, Disco 2000, Bar Italia, Monday Morning ou F.E.E.L.I.N.G.C.A.L.L.E.D.L.O.V.E.

Um tributo à adolescência perfeita e às amizades eternas. Sugiro - a quem não conhece e a quem conhece e gosta - uma das músicas mais underrated do álbum: Underwear

 


VIRAR A PÁGINA:

«A LIBERDADE DO DRIBLE» - Dinis Machado

Antologia inédita de crónicas de futebol que o escritor , falecido em 2008, escreveu em várias publicações. O autor do genial O que diz Molero entrega-se ao desporto rei e faz dele a sua venerada musa.

«O futebol é impreciso e inesperado, cheio de mortalidade», escreveu Dinis Machado, autor maior, um dos grandes escritores portugueses da segunda metade do Século XXI. Espantosa é a forma como aproxima o futebol da vida, com metáforas de uma pontaria desconcertante.

«Dizia o Américo motorista, do clube tosse-e-fuma do Manuel Bandeira, cigarreiro e catarral, sombrio e humorista: – Deviam era marcar golos à miséria e às relações das pessoas. O resto é jogar para a bancada».
 

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.