PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«BEFORE SUNSET» - Richard Linklater  

Apresentei-me em trajes indesculpáveis. Fato de treino azulão, tactel irrepreensível, acne descontrolada e ar de puto sabichão. 1992, bonjour Paris.

Viagem de TGV, a partir de Bordéus, em quarteto familiar. Mais sono do que entusiasmo, mais insolência do que reverência pela majestosidade de uma cidade extraordinária.

Naquele dia, não mereci Paris. Demasiado jovem, demasiado tolo, demasiado focado em futebol. Subi ao topo da Torre Eiffel e perguntei o resultado de um jogo jogado em Portugal. Pobre criatura.

Paris castigou-me.

Duas décadas sem vê-la foi tortura quase insuportável. Preparei-me para o regresso, prepararam-me. Pela mão da minha rainha Catarina – um beijo! – tudo me pareceu superlativo, romântico, grandiloquente.

«Uh la la, isto é Paris? Je t’aime!»

Entreguei-me a ela nas margens do Sena, olhei-a nos olhos em pleno Louvre, subi-a de cima a baixo nos Campos Elísios, espreitei-a pela montra da Louis Vuitton.

Pedi-lhe o Arco de Triunfo e ele lá estava. Imponente, petrificado, glorioso. Caminhei até Montmartre, encontrei o Sacré Coeur.

Recordei os 20 anos de espera.

Vi-a desenhada nas aventuras do Dartacão, na gargalhada mórbida do Cardeal Richelieu e no relinchar de Rofty; vi-a no túnel da morte da princesa Diana, escura e enigmática, e no bigode farfalhudo do Roi Artur Jorge; estudei-a nos manuais elementares de cinema, vibrei com os finais do Tour e as proezas do Lance pós-cancro e pré-doping.

Até chegar aos filmes que sugiro neste PLAY.

Um PLAY teclado ao ritmo da revolta, da incompreensão, do desejo de apagar monstros desta história, da necessidade de não confundi-los com quem não merece. Sangraram-te, Paris.

Paris é a Luz, Paris é a igualdade, a fraternidade, o pináculo da civilização. Que triunfem os nossos valores, que os políticos saibam distinguir e proteger, que voltemos a falar de Paris pela sua magia, cor, arquitetura, comida, música, pessoas… «Paris é uma festa», escreveu Hemingway. Sim, voltará a ser.

Amo-te Paris, e amo quem me soube mostrar como és.

Ver «Antes do Anoitecer – Before Sunset» é uma boa forma de contemplar a cidade. Um filme escrito e realizado pelo competente Richard Linklater.

Este PLAY não tem futebol, não tem desporto.
Tem uma carta de amor a Paris e pedaços de cultura que a eternizam.  

PS: «Midnight in Paris» - Woody Allen
A primeira vez de Allen na Cidade de Luz, à boleia da curiosidade de Owen Wilson e de um mergulho em personagens da Paris Antiga. Fantasia e génio, Cole Porter, F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Pablo Picasso, Salvador Dali, T.S. Elliott, Henri Matisse, Paul Gauguin.

A essência de Paris é a natureza dos artistas maiores. 


SOUNDCHECK:

«CARNAVAL DE PARIS» - Dario G

1998, o Mundial a tomar conta de França, a tomar conta de nós. E Paris, claro, como epicentro de um torneio extraordinário, a eclodir numa final com dois golos de Zizou Zidane e um de Emmanuel Petit.

Portugal não foi porque o execrável Marc Batta não deixou, adotei a Holanda e fui com ela até ao jogo de atribuição dos terceiro e quarto lugares. Acabámos em Paris, claro, no Parque dos Príncipes, a entoar a partitura de Dario G.


PS: «Hurry Up, We’re Dreaming» - M83
A banda de Anthony Gonzalez não é parisiense. A origem dos M83 está a Sul, nos Antibes. Mas são franceses, cantam muitas vezes em francês e ajudaram-me a escrever este PLAY. Numa redação vazia, num domingo cinzento, com Outro a gritar pelas colunas. 



VIRAR A PÁGINA:

«PARIS» - Edward Rutherford

Viagens no tempo dentro de Paris, um retrato detalhado, uma escrita cuidadosa, o tom da Revolução Francesa. Dos ascensores da Torre Eiffel ao submundo do quarteirão do Moulin Rouge.
 


«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.