«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Minuto 94:26 do Manchester City-Southampton. O jogo está empatado a uma bola e Van Dijk, central dos «Saints», pontapeia a bola para o meio-campo contrário. Ederson recolhe, fora da área, e joga curto. Otamendi. Delph. Otamendi de novo. Kompany. De Bruyne. Otamendi uma vez mais. David Silva. Sterling. De Bruyne. Devolução a Sterling. Dez passes, sete jogadores. Trinta e seis segundos para um fabuloso remate em arco que contorna Frase Forster e oferece a vitória ao City (2-1).

Sterling atravessa o campo, eufórico, perseguido pelos colegas, ao mesmo tempo que Guardiola dá socos no ar. Feliz pela vitória, orgulhoso porque a equipa foi fiel a uma identidade da qual ele não abdica.

Desta vez acabou em festa, mas nem sempre é assim. Que o diga Miguel Cardoso, que perdeu com o Vitória de Guimarães e teve de lidar com a impaciência dos adeptos. Mas mesmo sem conseguir impor a sua identidade, o Rio Ave não abdicou dela.

«Como se explica isto aos adeptos? Só se juntar o conjunto de crónicas, reportagens, opiniões, análises e briefings que têm sido feitos ao longo destes meses, agrafá-los todos e enviar para casa de cada um. É fundamental que toda a gente perceba uma coisa: esta equipa não vai mudar caminho, comigo à frente. Pode mudar o líder, o caminho não. Isso eu prometo-vos. Quem muda são os jogadores que não estiverem nesse caminho. O nosso caminho é de valorização, de futebol, de jogo, de construção. Que nos tem dado tanto, tanto, que o meu trabalho é trazer os jogadores para esse caminho, recordar-lhes o quanto eles acreditam que são melhores nesse caminho. Neste momento tenho um balneário que acredita nisso, que tem consciência de que aquilo que fez não acrescenta nada. Que amanhã vai dizer “não somos isto e não queremos ser isto”. Eu não tenho de convencer os adeptos, eles é que têm de se convencer que esta equipa deu aqui excelente espetáculos de futebol. É fundamental que nos apoiem, pois acreditamos muito neles e precisamos deles. São parte fundamental neste clube. E nestes momentos têm de reagir positivamente», disse o técnico na segunda-feira.

Não é fácil ser coerente no futebol. Pela pressão mediática, pela ditadura dos resultados. E porque a linha que separa coerência e teimosia é ténue. Mas é essa linha que, não raras vezes, separa o trigo do joio.

Não existe um caminho único para a vitória, mas Miguel Cardoso é fiel ao seu. E pela convicção com que defende as suas ideias percebe-se que é coerência, não é teimosia.

«Hay que morír sin traicionarse»

artigo atualizado: hora original 23:45, 30-11-2017