«Se fosse fácil não era para nós!»

O Sporting tremeu mas não caiu em Arouca. Nos minutos finais de um jogo truculento Slimani descobriu o caminho e conservou as margens de liderança. Curiosamente, frente a um adversário que havia derrubado o Benfica em terreno neutro, Aveiro, após mudança de cenário contestada pelos rivais. Com razão.

Os dias seguintes foram dominados pelo caso Naldo – lamentável a diferença de tratamento em relação a Lito Vidigal, que teve uma atitude horrível, a justificar igualmente punição séria – e remeteram para nota de rodapé a subtil mensagem de João Mário nas redes sociais.

O cerebral médio do Sporting adotou a expressão repetitiva de Rui Vitória (certamente com uma pitada de humor) para celebrar o triunfo. Horas mais tarde, dando a entender que a piada já andava pelo balneário leonino, foi Ricardo Esgaio a seguir o mesmo caminho.



Não me parece que sejam mensagens completamente alheias ao facto de se aproximar novo dérbi com o Benfica. Consciente ou inconscientemente, os jogadores leoninos projetaram enorme confiança antes do embate com a formação encarnada.  

A boa disposição é louvável neste futebol cinzento e fértil em polémicas.

Porém, devem os jogadores transmitir mensagens que possam ser encaradas como provocações a um rival direto? A temática faria sentido nesta formação recente do Sporting, destinada aos jogadores das camadas jovens. Desconheço se chegou ao plantel principal, mas seria igualmente útil.

 

 
Não é um caso, longe disso, embora possa ser utilizado do outro lado como arma de arremesso. Tal como aconteceu com a tirada desaconselhável de Rui Vitória na véspera do último dérbi. 

«Amanhã vai jogar uma equipa, que somos nós, contra onze jogadores, que não sei se será uma equipa.»

Estes jogos de palavras – intencionais ou não – têm uma importância nem sempre valorizada e reconhecida pelos intervenientes. Mas Jorge Jesus aproveitou certamente o deslize verbal de Vitória para motivar os seus jogadores.

Ora por esta altura o treinador do Benfica é precisamente a figura mais pressionada para o terceiro dérbi com o Sporting.

São duas derrotas em quatro confrontos agendados – pode surgir um quinto na final da Taça da Liga. Mais que a continuidade na Taça de Portugal, está em jogo a contabilidade particular com os leões.

Em caso de triunfo, Rui Vitória recupera a confiança do seu grupo nos dérbis e a esperança de equilíbrio no saldo final. Se o Benfica perder novamente, ficará irremediavelmente por baixo em relação ao rival.



Um cenário curioso. Os mesmos jogadores (Esgaio e João Mário estiveram lá) que sofreram uma derrota pesada na Albânia, numa página negra para o Sporting nas competições europeias, levantaram-se com um triunfo suado em Arouca e animam-se com a proximidade de novo duelo com os encarnados.

Nos últimos vinte dérbis os leões conseguiram apenas quatro vitórias. Porém, dois triunfos consecutivos bastaram para afetar a imagem de superioridade do Benfica no ‘campeonato da Segunda Circular’.

Os dados estão lançados. Rui Vitória saberá que o seu nome está em causa, sobretudo na opinião pública, e anda a ser falado no balneário do Sporting.

Do outro lado, é importante os jogadores leoninos não esquecerem que nada está ganho para lá da Supertaça, que o Skenderbeu está tão presente como a vitória em Arouca e que o Benfica é apenas um dos rivais na luta pelo título. A confiança doseada é benéfica, o excesso é geralmente contraproducente.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)