«A possibilidade de chegar às dez promoções, que é um número redondo, seria muito interessante»

Desde cedo se percebeu que Vítor Oliveira não ficaria no Desportivo de Chaves depois de recolocar os Trás-os-Montes no mapa da Liga.

Antes de mais, fica o aplauso por este regresso ao escalão principal. Sejam bem-vindos.

Ainda na ressaca da subida, Vítor Oliveira confirmou o que se esperava e abriu a porta para novo desafio semelhante: após a nona subida, gostaria de tentar a décima. Não faltarão pretendentes.

Entre os que louvam a política surgem uns quantos que acusam o treinador de cobardia. Não creio.

Trata-se acima de tudo de uma decisão inteligente entre ficar sujeito a um deslize e falta de sustentação num projeto mediano na Liga ou afirmar-se cada vez mais como um especialista num patamar inferior.

Vítor Oliveira ficará na história como o recordista de subidas no segundo escalão. É o melhor naquilo que faz.

Acredito, desde sempre, que esse é o caminho.

Crescemos a ouvir que um curso universitário seria alicerce para uma carreira de sucesso, que devíamos apontar a um futuro como engenheiros, médicos ou advogados. Ouvimos ainda, a certa altura, que a diversidade de conhecimento era uma enorme mais-valia.

O que temos agora? Fornadas e fornadas de universitários sem espaço nas áreas desejadas e com empregos que não ambicionavam.

Temos ainda uma proliferação de gente que sabe um pouco sobre muitas coisas mas não sabe o suficiente sobre nenhuma delas. São especialistas do todo e, no fundo, especialistas do nada.

Lembro-me perfeitamente de ouvir, ao longo do crescimento académico, argumentos contra a especialização. Seria um beco sem saída, algo perigoso e limitador. Pelo contrário.

O melhor carpinteiro – com todo o respeito e mais algum - ganhará tanto como um médico mediano e tem trabalho assegurado. O mundo nunca deixará de precisar de carpinteiros, de serventes, de serralheiros. E precisa de miúdos que ambicionem ser os melhores nessas áreas.

Voltando a Vítor Oliveira. Tem 62 anos, a caminho dos 63. Já não é propriamente um jovem - sobretudo num mercado de treinadores que se reinventou após o fenómeno Mourinho - e já teve a sua quota-parte de experiências na Liga.

O treinador que nasceu em Matosinhos esteve por 14 vezes no escalão principal, despedindo-se há mais de uma década (2004/05), quando o Moreirense lutava para não descer e  Jorge Jesus foi a alternativa encontrava. Em vão.

Não há aqui cobardia de Vítor Oliveira. Muito menos um receio em relação ao desconhecido. O técnico já andou por cá, sabe que o mercado é super-competitivo, o prazo de validade é invariavelmente curto e os projetos de fuga à despromoção obrigam a jogar para não perder.

Vítor Oliveira quer ser o melhor e ganhar, não mais que isso. Podia ser apenas o maior da sua rua mas tem um objetivo bem mais nobre: quer ser o melhor da II Liga. Um especialista. Um recordista. Um campeão que ficará na história.

Ser o melhor em algo é sempre mais valioso que ser apenas mais um em outra coisa qualquer.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)