«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.
A campanha europeia do Ajax é mais do que um brilhozinho nos olhos de quem gosta de apoiar o «underdog».
O trajeto da equipa orientada por Ten Hag é uma apaixonante homenagem. Ao símbolo que levam ao peito, desde logo, mas sobretudo a um nome incontornável para a identidade do Ajax, dentro e fora do campo: Johan Cruyff.
O filho, Jordi, escreveu no início da semana que não se «atreveria a tanto», mas na coluna que assina no El País concordou com a ideia de que há elementos que honram aquele que era o «credo futebolístico» do pai: «estilo, base, juventude, valentia e gestão nas mãos de ex-jogadores».
Identidade. Tudo se resume à palavra mais utilizada para caracterizar a fantástica vitória do Ajax em Turim (ou antes, no Bernabéu).
Hoje em dia muito se discute o peso da identidade e da estratégia, e este Ajax encanta pela forma como sabe equilibrar esses dois conceitos. Reconhece a importância de compreender o adversário, mas nunca renuncia ao conhecimento de si próprio.
Esta mentalidade não está apenas na cabeça do treinador. Vem de cima, e é transversal a todo o clube. Quem chega encaixa no perfil, e não o contrário.
Todos os clubes têm a sua história, mas poucos têm uma identidade tão vincada. É como se o Ajax tivesse um livro de estilo. Um guia que não garante vitórias, mas define um caminho.
Os dirigentes seguem um modelo, os treinadores respeitam uma filosofia e os jogadores assimilam a ideia.
Promove a fidelização de quem está dentro da estrutura, mas sobretudo de quem está do lado de fora e não é menos importante. Os adeptos do Ajax sabem qual o rumo do clube, e isso é menos frequente no mundo do futebol do que seria desejável.
E também por isso há quem diga que, tirando os adeptos de Barcelona, Liverpool e Tottenham, todos os outros estão a torcer pelo Ajax.
O que há para não gostar?