Subitamente, à medida que o nevoeiro baixava sobre as encostas da ilha da Madeira, levantava-se um coro de protestos.

Jogou-se 9 minutos do Nacional-Benfica, ao final da tarde de domingo, até o árbitro tomar a única decisão possível: adiar este jogo da 8.ª jornada.

Estava dado o mote para horas de TV com comentadores de clubes, feitos meteorologistas de ocasião, a defenderem até que o horário da manhã é menos propenso a neblina, entre outras convicções instantâneas não comprováveis pelos factos.

Não faltaram também adeptos a criticarem as condições da Choupana, como se o Nacional não tivesse um estádio com condições de I Liga.

Ora, na I Liga o Casa Pia vai para a terceira época a jogar num recinto emprestado, a 80 quilómetros de casa, por no seu não ter iluminação suficiente. O Farense joga em casa apenas quando não recebe os três grandes. O Rio Ave joga há cinco anos num estádio que só tem uma bancada, tendo cada transmissão televisiva um aspeto desolador sem adeptos – algo que na Liga Espanhola vale multa aos clubes. O Estoril tem uma bancada interditada vai para sete anos. O Santa Clara tem um relvado com escoamento deficiente, o que já levou a adiamentos. Na Vila das Aves joga-se em contraluz ao final da tarde, com má visibilidade da tribuna de imprensa, em Arouca a posição da câmara master, colocada num andaime, não está centrada, e em Famalicão e Moreira de Cónegos o plano de ataque das câmaras é baixíssimo, o que dificulta a visibilidade nas transmissões televisivas.

Mesmo considerando que o adiamento do jogo com o Benfica foi o 17.º na Choupana por questões climatéricas desde o início do século, o Nacional não é um caso à parte na Liga, nem sequer deve ser responsabilizado por situações como as de domingo.

O problema é, isso sim, de organização. Cabe à Liga atender a esta especificidade e adaptar o regulamento para prevenir futuros adiamentos.

Como? Bastaria criar um plano de contingência com uma norma simples: sempre que houvesse previsão de nevoeiro na Choupana, poder-se-ia mudar o jogo para o Estádio dos Barreiros, a 10 minutos de distância e praticamente ao nível do mar. Em alternativa, os estádios da Ribeira Brava ou de Machico poderiam ser soluções.

A orografia é uma condicionante enorme na Madeira, seja pela neblina ocasional que atinge um estádio construído a 600 metros de altitude, seja no Aeroporto Cristiano Ronaldo, afetado não raras vezes por ventos fortes.

Há que adaptar o regulamento à realidade e não o contrário. No fundo, é só ver um pouco mais à frente.

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«A Vírgula» é um espaço de crónica da autoria do jornalista Sérgio Pires.