«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».
São os dias dos magnatas e dos sheikhs, das taras e manias de quem não sabe o que fazer a tanto dinheiro. E o dinheiro, quando é inesgotável, tem sempre razão. O ultra-milionário abre a carteira, pergunta quanto é, boceja de aborrecimento e atira as notas ao chão. Sabe que alguém as apanhará, em desespero, para voltar a gastá-las mal.
Não sei se foi bem isto que ocorreu nos negócios de Danilo Pereira e Alex Telles. O que sei é que a SAD do FC Porto criou, por culpa própria, um contexto comercial extremamente desfavorável. Basta ler ESTE artigo para perceber, em bom rigor, ao que me refiro.
É importante separar as águas e os temas. O sucesso desportivo de 2020, meritório, não pode ser confundido com a gestão altamente discutível feita pela direção liderada por Pinto da Costa nos últimos anos.
Estas duas saídas, surpreendentes por roubarem a Sérgio Conceição dois nomes fundamentais ao mesmo tempo, são o reflexo da fragilidade do FC Porto no mercado de transferências. Não há capacidade financeira, não há uma estratégia equilibrada, há necessidades urgentes de tesouraria e despesas correntes.
Com estas vendas, os campeões nacionais encaixam cerca de 35 milhões de euros - Danilo por empréstimo ao PSG com obrigação de compra e Alex Telles numa venda simples ao Manchester United – e perdem dois homens que, juntos, totalizam 397 jogos, 45 golos, 4 campeonatos, duas taças e duas supertaças de dragão ao peito.
Valem mais 35 milhões ou dois jogadores de indiscutível valor e influência? O FC Porto terá capacidade de reparar os danos que as saídas causarão à equipa? A história diz-nos que não há insubstituíveis e que Sérgio Conceição tem feito pequenos milagres competitivos. Mas que estes são rudes golpes na qualidade da versão 2020/21 do dragão, isso é claríssimo.
É difícil estratificar por níveis de gravidade todos os erros cometidos por esta SAD. As circunstâncias obrigaram-na a vender Alex Telles e Danilo? As circunstâncias foram criadas, e permitidas, pelos administradores azuis e bancos.
PS1: «Cedemos jogadores com talento e futuro, mas não eram peças indispensáveis no sucesso da equipa, praticamente não jogaram, não era pela sua falta que seremos afetados. O que recebemos deu para ir buscar outros jogadores e compor parcialmente as nossas contas. Não abrimos mão de nenhum jogador do núcleo de 18 jogadores considerados indispensáveis, mas se algum clube bater o valor da cláusula e o jogador quiser ir, não podemos fazer nada.»
Esta foi a explicação dada pelo presidente do FC Porto, em setembro no Porto Canal, para as transferências de Vitinha e Fábio Silva para o Wolverhampton. Na ocasião, o dirigente garantiu também que o clube não perderia nenhuma das principais peças por um número abaixo da cláusula de rescisão. Pinto da Costa enganou-se. A cláusula de Alex Telles era de 40 milhões (saiu por 15) e a de Danilo era de 60 milhões (o clube poderá encaixar, no máximo, 20 milhões com o negócio).
PS2: Diogo Queirós e Diogo Leite formaram durante uma década dupla de centrais na formação do FC Porto. Foram campeões de Europa de seleções e de clubes. Provaram fazer parte de uma colheita distinta, especial. O segundo teve algumas oportunidades na equipa principal, o primeiro nem sequer uma. Passaram o mercado de transferências a ler notícias sobre as mais do que prováveis saídas do clube. Não contam, não servem. É muito difícil perceber isto ao mesmo tempo que o clube procura um defesa central.
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