«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Um ano depois, volto a um tema que me é particularmente caro. Possivelmente por ter crescido numa casa onde vivia um treinador de futebol, o meu pai. Admito essa sensibilidade extra e os consequentes exageros ao escrever na defesa desta classe.

Um ano depois, mantenho o meu espanto pela leviandade com que grande parte dos presidentes dos clubes nacionais, e respetivas direções, contratam e despedem treinadores. Não há planificação, não há uma leitura rigorosa do perfil escolhido antes da contratação, não há certezas nem convicções. 

Um ano depois, à primeira desilusão, ao primeiro abalo, a casa vem abaixo. E o treinador é obrigado a sair. Perdoem-me a expressão: esta não gestão é uma estupidez pegada. Tudo o que criticámos no futebol brasileiro ao longo de décadas está a tomar conta das mentes mesquinhas dos nossos dirigentes. 

Os exemplos mais recentes, no Moreirense e no Gil Vicente, são particularmente ridículos. 

Ricardo Soares acabou a época anterior num excelente oitavo lugar, depois de ter substituído Vítor Campelos ainda numa fase inicial. Esta época, com um plantel completamente renovado - 17 entradas! - e uma quantidade anormal de lesões (perdeu, por exemplo, os dois laterais esquerdos e contratou Afonso Figueiredo há poucas semanas) conseguiu um arranque muito interessante.

Duas vitórias em casa (Farense e Marítimo), duas derrotas fora (Benfica e Rio Ave) e mais dois empates. Se vencer o jogo que tem em atraso, contra o Paços de Ferreira, a equipa pode saltar para o quinto lugar. A direção do Moreirense leu estes resultados e considerou-os insuficientes? 

Rui Almeida, agora. Recebeu uma pesada herança deixada por Vítor Oliveira, fez cinco pontos nos primeiros três jogos e depois perdeu no Dragão por 1-0 (com uma exibição muito boa) e em Alvalade (3-1, tendo estado a ganhar até perto do fim). O que se seguiu? Uma derrota extremamente injusta contra o Vitória de Guimarães e outra contra o Nacional, num jogo em que o Gil falhou dois penáltis e sofreu o 2-1 já no período de descontos. 

Tive o cuidado de falar com atletas das duas equipas. Nenhum deles compreendeu estas demissões. Mas em Portugal é assim, cada vez mais assim. Num ano de sofrimento para todos, em que se pede prudência e cabeça fria a tomar decisões, os dirigentes tornaram a figura do treinador absolutamente descartável. Como se não fosse mais do que uma maçada ter de contratar e despedir. 

Incompreensível. 

PS: desconheço eventuais problemas graves de relacionamento entre estes dois treinadores e as respetivas direções. A existirem, os responsáveis deviam ter tido o bom senso de não misturar as coisas e defender os interesses desportivos das suas instituições.