«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

A pena é um sentimento de perda emocional. De dor. Não é um golpe estatístico, nem sequer desportivo ou económico. Aqui não há pena, há apenas a constatação de incompetência. Ou desleixo. Talvez ambos, uma mistura explosiva.

Façam uma auditoria às contratações falhadas do futebol nacional – fiquemo-nos pela expressão «flops» - e arrepiem-se. Não de frio, não de medo, mas de espanto. Nomes, nomes e mais nomes, chegados à Liga e rapidamente devolvidos à procedência, com o selo de «Frágil» na caixa de obscuridade que os transporta.

Ninguém se salva. Pequenos e grandes, remediados e pobres, ricos ou milionários. Erros atrás de erros.

Alguém sabe quem é Erdal Rakip? E Saidy Janko? Talvez Hadi Sacko. Não, nada?

Bem, por impossível que isto possa parecer, todos foram contratados pelos três grandes do nosso futebol nos últimos anos. Com que critério? Com que expetativa? Que argumentos ponderados aconselharam estes investimentos?

Três nomes simbólicos apenas, três exemplos das péssimas políticas de scout/transferências dos nossos dirigentes, verdadeiros especialistas em escolher mal. Quase sempre.

É injusto incluir todos no mesmo saco, mas o panorama genérico é muito pobre. Em alguns casos por falta de recursos, noutros por mau aconselhamento, noutros ainda por influências incompreensíveis e ainda outros por estratégias enviesadas.

Vamos a mais nomes?

Roderick Miller e Brian Gomez. Christian Madu e Pablo Sabbag. Nikolaos Ioannidis e Kermit Erasmus.

Identifica facilmente algum deles? Um exercício maçador, porventura. Jogaram todos na Liga 2018/19.

Gostava, confesso, de perceber a forma como alguns dirigentes aceitam estas encomendas.

Onde é que assino? Sim senhor, deixe ficar.

Rigor, conhecimento, convicção. Como é que algum clube profissional avança para um reforço sem o mínimo de garantias? Perguntas e mais perguntas, admito, a descrença é gigantesca.

Penso em tudo isto ao ter acesso aos números da recente auditoria às contas do Sporting (2013-2018), mas o prejuízo incauto e a duvidosa legalidade de dezenas de ações não é um exclusivo do defunto presidente BdC. Longe disso. Se assim fosse, o futebol indígena seria um mar de rosas, um poema à beira mar plantado.

O tema é intrincado, confuso, complexo. Demasiado complexo para apenas um artigo de opinião.

Grave, verdadeiramente grave, é que estes negociadores de lã caprina gerem milhares de euros que não são seus e fecham os olhos às consequências sérias que uma mão cheia de 'flops' podem trazer.

Os mais sérios falham por incompetência, sim; os desonestos aceitam dois pés em forma de tijolo em troca de uma comissão escura, ancorada num offshore de céus azuis e mares cristalinos.

Impressionante, ainda mais, é assistir ao espetáculo dos dirigentes mais resistentes. Falham, voltam a falhar, exibem uma petulância sacrossanta e uma estoicidade granítica, verdadeiros especialistas no combate à osteoporose.

Tudo lhes falta em retidão e coluna vertebral, só os ossos os mantêm de pé.

O meu desejo? Que a Justiça faça o seu trabalho. Que se perceba quem está no futebol para servir e quem está no futebol para dele se servir.

Os clubes, caros senhores, pertencem aos adeptos. Sem adeptos, a existência disto, do profissionalismo, não faz qualquer sentido. Respeitem quem paga para ver a sua equipa tarde e a más horas, muitas vezes longe, muitas vezes em condições miseráveis.  

Numa casa séria e de poucas posses, a principal lei de sobrevivência é esta: escolher bem o pouco que se pode comprar.

Pagar um Taarabt, um Bueno ou um Castaignos épocas a fio não é para todos. Dá-me pena.  

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».