«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Gosto de Petit. É um homem de bom trato, de família humilde e honesta, um tipo com quem é possível ter uma boa conversa.

Conheço Petit há 18 anos. Sempre me respeitou, sempre foi acessível, a antítese do futebolista pop star, nada de brincos ou tatuagens absurdas. Um senhor com um currículo de excelência, nome obrigatório no dicionário do futebol português do século XXI.

Sinto necessidade de escrever publicamente sobre Petit. A semana passada não foi boa para ele, do início ao fim. Começou com a sua conferência de imprensa pós-Feirense, continuou com o silêncio antes da visita à Luz e acabou com a péssima resposta do Marítimo em Lisboa.

O que podia ter corrido mal a Petit, correu mal. E ele é o primeiro responsável por isso. Sempre que Petit se aproxima do Benfica, a sua carreira de treinador enfraquece.

O emblema da Luz é a 'kriptonite' do antigo internacional português (57 jogos, 4 golos, presenças em Europeus e Mundiais), campeão nacional pelo Boavista e, precisamente, pelo Benfica.

Petit defrontou nove vezes as águias como treinador e perdeu sempre. Esta última, por 6-0, foi particularmente problemática. Petit lê jornais, vê televisão, tem amigos e sabe que o adepto comum o cola ao antigo clube.

É essa a ideia generalizada que vinga no nosso mapa desportivo e, ao assumir que fragilizara estrategicamente o Marítimo para a visita à Luz, Petit pôs-se a jeito de todas as críticas.

Pela ligação histórica que tem ao Benfica, Petit devia ter adivinhado o que resultaria dessas palavras. A goleada piorou a imagem pública do treinador, os golos sofridos - dois parecem saído de uma cassete de apanhados - tornaram este Marítimo uma equipa de caricaturas e boas festas.

A mediatização do espaço público é cruel e voltou a ser cruel com Petit. Não me acredito em fretes e sei que Petit geriu este Marítimo pensando que esta era a melhor forma de ter a equipa bem para as quatro finais da Liga.

Mas nem todos conhecem Petit como eu.

O mais fácil é apontar o dedo e identificar o enfraquecimento dele quando tem de jogar contra o Benfica. Petit fez um grande trabalho no Boavista e no Tondela, mas só poderá ser um Super Homem do treino quando vencer a batalha contra a sua ‘kriptonite’, o Benfica.

Fica para a próxima época.

PS: a mim interessa-me sobretudo a análise técnica, perceber o que Petit pretende de uma equipa, os seus princípios e identidade. Este Marítimo é uma desilusão, embora vá conseguir a manutenção na Liga. O maior responsável chama-se Carlos Pereira, presidente há vários anos e homem capaz de começar a temporada com um treinador interessado em ter bola e praticar um futebol ofensivo (Cláudio Braga), para a meio mudar tudo e apostar em Petit. O que é Petit como treinador? Nesta altura ainda tenho dúvidas. André Leão, na longa entrevista ao Maisfutebol publicada na noite desta quinta-feira, dá o seu ponto de vista:

«Ele [Petit] chegou ao Paços e só me tirou a mim da equipa, meteu o Mateus. Não percebi. O Vasco [Seabra] só queria jogar futebol, bola e bola. O Petit era só físico, físico. Havia uma ideia de jogo, mas limitada. Não gostei, sinceramente. Custou-me trabalhar com ele.»

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