«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

A situação de Andreas Samaris no Benfica 2019/20 é tão estranha que Bruno Lage sentiu necessidade de falar dez minutos sobre ela na conferência de imprensa de domingo.

Se o leitor quiser ler as explicações do treinador para a parca utilização do médio grego, basta clicar neste LINK e passar já para a peça escrita pelo meu colega Ricardo Gouveia.

Ficou convencido com o que afirmou Bruno Lage? Eu não. Passo a explicar.

Lage fala em pequenas lesões, em timings, em atuações desinspiradas, em harmonia entre as várias duplas do meio-campo. Tudo certo, mas foi sempre Lage a escolher e Lage é o único responsável pelas opções.

O problema é que Samaris, pelo que fez entre janeiro e maio de 2019 – e fez tanto que a direção lhe colocou um novo contrato de quatro anos em cima da mesa -, tinha de ser um nome indiscutível (pelo menos, importante) no desenho do treinador do Benfica.  

Ninguém assina um contrato para ser titular e Samaris também não. Mas alguém entende que o grego tenha passado de pilar fundamental a nome completamente ignorado, por vezes até marginalizado, nas escolhas do treinador?

Mesmo quando Florentino se lesionou – e Fejsa, era evidente, já não dava as garantias de outrora -, Samaris continuou a ser o «gajo porreiro» do banco de suplentes. O tipo que se disponibilizava a entrar a cinco minutos do fim, para correr e tapar buracos. Entre 6 de dezembro e 20 de fevereiro, mais de dois meses, Andreas jogou 56 minutos, sempre e só como suplente utilizado.

Dois minutos no Bessa, quatro em Famalicão, um em Donetsk, um na receção ao Aves. Insuportável, pelo menos na perspetiva de um elemento fundamental na recuperação encetada na segunda metade da época 18/19.

As provas dadas no passado por Samaris justificavam outro tipo de reconhecimento por parte do treinador do Benfica. Até outro tipo de respeito.

Samaris é o tipo que eu quereria ao meu lado numa rixa de bar, aquele amigo que dá o peito às balas e nos defende até ao limite, no matter what. Samaris é o confidente do balneário, o transportador da alma e do mérito. É o homem das sete vidas, tantas vezes condenado a um papel de figurante e tantas vezes capaz de roubar as cenas aos atores ditos principais.

Escrevo este CHUTEIRAS PRETAS antes do Benfica-Moreirense e sem saber o que Samaris vai dar ao jogo. Honestamente, nem é isso o mais importante. O que me choca, lidas todas as explicações de Bruno Lage, é que o treinador teve o nome do grego no fundo da lista de opções a partir daqueles maus 45 minutos contra o FC Porto.  

Não sei se Samaris vai escrever um livro ou não, mas Bruno Lage tem de perceber a estranheza de quem está de fora e tem a missão de analisar. Não, não foi normal o desaparecimento de Andreas Samaris. Não, não foi normal a gestão comunicacional feita pelo treinador sobre o grego.

O estranho caso de Andreas Samaris.   

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».