«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».
Não sei se António Simões foi ou não censurado/escorraçado/ostracizado na BTV. Escolham vocês o termo, caso ele seja aplicável.
Não tenho conhecimento privilegiado sobre o tema, muito menos informação confidencial de uma ou de outra parte. Digo já ao que venho: se está à espera que eu condene à morte o canal oficial do Benfica, então talvez o melhor seja encontrar-me consigo noutro texto.
O que eu proponho fazer aqui é muito simples: saudar o futebol com memória, sorrir para os monstros sagrados do ludopédio, respeitar as personagens sacras do jogo. Como Simões.
Ora, talvez não seja mal visto lembrar quem é o sr. António Simões. Estamos a falar de um cavalheiro de 72 anos, cujo currículo faz dele a maior figura viva do Benfica, ao lado de José Augusto.
São 447 jogos oficiais de águia ao peito, 72 golos, uma Taça dos Campeões Europeus, dez campeonatos nacionais e cinco Taças de Portugal. Invejável, não?
Isto não permite, aceito, que Simões esteja acima da instituição Benfica, mas autoriza o magriço (sim, Simões esteve no Mundial de 66 dos inesquecíveis magriços) a exercer de forma livre e independente a sua Opinião.
E, na opinião perfeitamente legítima de Simões, o emblema da Luz tem enveredado por caminhos discutíveis. Na comunicação, na gestão dos recursos humanos, nas relações públicas.
O Benfica recente, envolvido em incontáveis processos na Justiça, envergonha António Simões. O antigo confidente de Eusébio disso deu conta no canal do Benfica, provavelmente ancorado naquilo que foi o seu Benfica.
Perfeitamente legítimo, sendo mais ou menos acertado.
Insisto: se há alguém com autoridade moral para falar do Benfica, esse alguém é Simões. Como seria se fossem José Augusto, Shéu Han, Fernando Chalana ou Humberto Coelho.
Aparentemente, as opiniões fortes de Simões incomodaram os responsáveis da BTV e os senhores da comunicação da Luz. Utilizo o termo 'aparentemente' porque me limito a fazer eco das acusações de Simões. Não possuo conhecimento de causa.
Se foi mesmo assim, sou forçado também a dizer que a opção desses responsáveis é legítima. Para nossa casa só convidamos quem queremos.
Pode ser errado, pode ser injusto, pode ser revoltante. Para mim, a ser verdade, é tudo isso e muito mais. Mas é legítimo.
Quando temos um clube que, em resposta a um desafio do Ajax, esquece na sua equipa-tipo da formação todos os nomes que acima enumerei - com Simões, claro -, estamos à espera de quê? Do quê? Não há memória.
A opção do Benfica está à vista, é clara. Entregar o combate comunicacional a gente nova, disposta a praticamente tudo na defesa do emblema, ansiosa por aparecer e servir.
Gente disposta até a uma defesa que não tem ponta por onde se lhe pegue, a uma defesa capaz de rasurar a história e reescrevê-la da forma que mais jeito lhe dá.
É legítimo, sim senhor. Mas profundamente perturbante.
Acabo de uma forma muito simples: coloquem-se na pele de Simões. Tentem imaginar o que ele viveu no Benfica, um Benfica gigantesco e honrado.
E imaginem, peço-vos, o que sente Simões ao ver as manchetes do último ano e a ouvir os operários da voz benfiquista nos diferentes canais de televisão e jornais. Envergonharia qualquer lenda vida. Como ele, de facto, é. Por muito que o tentem colocar ao nível de um mensageiro qualquer.
António Simões: 447 jogos oficiais de águia ao peito, 72 golos, uma Taça dos Campeões Europeus, dez campeonatos nacionais e cinco Taças de Portugal. Invejável, não?
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