Doía-me! Levantei-me como um velho, derrotado pelo peso dos anos. Desequilibrei-me. Equilibrei-me outra vez. Levantei-me em câmara lenta, com os ossos todos a estalar, como se já nem me valesse uma bengala na mão. Apeteceu-me gritar. Só tenho 32 anos! 32! Depois de um jogo miserável, em que nunca cheguei a tempo, em que nunca estive lá, em que nunca mandei na minha defesa, o corpo ainda me traiu. Não reagiu ao meu pedido, às minhas ordens. Equilibrei-me. Desequilibrei-me. Estava suado como se tivesse passado hora e meia a correr numa praia, debaixo de um sol arrasador, no meio das dunas. Se ainda fosse futevólei na Póvoa... Senti os pulmões esmagados, só queria deixar-me ficar e esperar que o momento passasse. Todos queríamos. Estávamos esgotados, cansados de tantos erros de posicionamento, de tantos equívocos táticos e técnicos, e ainda tínhamos de recuperar aqueles dois golos de rajada. Desculpem, fui-me abaixo. Ainda estava a levantar-me e já o Dempsey ficava de peito-feito para emendar o cruzamento. Ainda terei ficado mais ridículo na super-slow motion. Imóvel. Sem me mexer. Que bela imagem! O Beto estava batido, e eu nada podia fazer. Olhei para o auxiliar e nada. As nossas mãos levantadas e nada! Nada! Protestámos, e nada outra vez. Tantos nadas. Aquele momento em que o meu corpo cedeu, em que ameacei voltar a cair para trás, o Dempsey ficou em jogo. O golo foi válido. A outra metade do campo tornou-se uma montanha gigantesca, que tínhamos de voltar a subir. O bilhete de volta começou a ser carimbado. Na terra dos meus antepassados, onde o futebol é o ópio do povo, falhei com estrondo. Em super-slow motion!
«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.
É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na
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