É bom que se diga que não conheço o cidadão Pedro Emanuel pessoalmente. O artigo utiliza o exemplo do que o treinador português fez no Estoril para passar a mensagem de como o contexto é realmente algo a que o treinador e a liderança do mesmo têm de estar sempre atentos. Por aquilo que conseguimos ler, observar e ouvir, ainda existem muitos treinadores, nas mais diversas modalidades e níveis de competição, a desvalorizar o impacto que o contexto do clube, a sua cultura e as questões organizacionais da própria competição ou dos atletas assumem naquilo que é o desempenho.

Pedro Emanuel entra no Estoril com a época 2016/17 a decorrer e consegue colocar o clube da Linha de Cascais em décimo lugar.

Com trinta pontos por disputar, garante dezoito e coloca a equipa num lugar calmo da tabela classificativa. Em dez jogos, consegue quase metade dos pontos com que a equipa termina a época, sendo que nos outros vinte e quatro jogos o Estoril apenas tinha feito vinte.

Face a isto, é claramente defensável que o clube decida manter o técnico na esperança de manter esse registo na temporada seguinte, ainda mais se juntarmos o facto de ser ele a escolher os novos jogadores e a validar os que transitam do ano anterior. Perante estas aparentes vantagens, como explicar que, com melhores condições para realizar um melhor trabalho, aconteça o que aconteceu a Pedro Emanuel e a outros treinadores, em Portugal e no estrangeiro?

Existem sempre dados que quase todos desconhecemos e que têm peso naquilo que é o dia-a-dia da gestão de um grupo de trabalho.

Acredito que a causa não passe pela mudança de competência de um técnico em tão pouco tempo, e que, neste caso em específico, a situação não passe por uma alteração económica extrema.

Então, por onde? Vou pelo contexto e pela capacidade ou incapacidade de resposta a uma nova conjuntura. Uma conjuntura que, à partida, tem tudo para ser melhor, mas que apresenta perguntas diferentes a que a liderança, por alguma razão, não consegue dar as respostas mais corretas. 

Todas as épocas há equipas que decidem manter treinadores e equipas técnicas que na época anterior entraram a meio e fizeram bom ou excelente trabalho. Com essa decisão, tentam ainda que as condições sejam direcionadas a cada treinador: não falo do estágio, mas sim de alguns jogadores em específico. Se quando o técnico entra a meio tem de se adaptar ao plantel já existente, no início de uma época há um misto de adaptabilidade, porque a maioria de jogadores será escolhida por si.

É interessante percebermos que o contexto não é apenas a cultura do clube ou da SAD. É o próprio contexto de injeção de uma suposta moral. De treinadores que têm discursos talhados para situações mais complexas e menos apropriados a momentos mais estáveis. Além disso, nem todos os treinadores são mais eficientes com pessoas escolhidas por si, mas ao mesmo tempo possuem maior capacidade em procurar o melhor dos outros.

Bem sei que isto é discutível e que a solução não passa por escolher sempre um treinador novo no início de cada época. É necessário sim perceber qual a liderança que é necessário para cada momento. Um que encaixe que nem uma luva num trabalho a meio da temporada e em que é preciso salvar algo; ou outro, claramente mais confortável com um grupo com a sua assinatura e identidade, a partir da primeira jornada. 

Esta dicotomia faz-me sempre lembrar que também no relacionamento interpessoal existem pessoas que se sentem melhor quando se mantêm numa relação para «salvar» a outra pessoa, e outros não têm nenhum perfil para isso.