«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Desta vez o Alfa chegou a tempo, como dizia a manchete do Maisfutebol na terça-feira à noite, mas foram as mãos seguras de Odysseas Vlachodimos a conduzir o Benfica ao regresso às vitórias na Liga dos Campeões.

Mais do que o golo de Alfa Semedo, foi a exibição do guarda-redes alemão a evitar um embaraço a Rui Vitória, que durante largos minutos foi incapaz de controlar aquilo que se estava a passar em campo.

Um eventual empate teria sempre uma carga negativa. Não só por ser o segundo consecutivo, antes do clássico com o FC Porto, mas sobretudo porque o Benfica renegou as condições favoráveis que criou no próprio jogo de Atenas. Frente a um adversário de um patamar claramente inferior, como a fase inicial do jogo comprovou, por mais que depois o próprio Benfica tenha andado a contrariar esta realidade.

E a expulsão de Rúben Dias não é atenuante suficiente para a desorientação encarnada, até pelos sinais dados mesmo antes do cartão vermelho do central. Com o conforto de dois golos, o Benfica foi incapaz de gerir o jogo em posse. A saída de Salvio ao intervalo também não ajudou, ainda que a necessidade de lançar Lema e os problemas físicos recentes do argentino possam ajudar a entender a opção. Mas este é um problema antigo da equipa de Rui Vitória, e que já alguns pontos tem custado.

Perante isto o AEK foi assumindo o jogo, e mesmo com onze jogadores a equipa portuguesa começou a revelar insegurança defensiva. Limitada tecnicamente, a equipa grega dispôs de enorme liberdade na primeira fase de construção, muito por força da distância de Seferovic para os colegas.

A missão de Seferovic seria cortar a ligação entre os centrais, mas isso tornou-se ineficaz perante a saída a três do AEK, e porque a linha intermédia do Benfica estava muito distante. 

Na segunda parte, já sem Rúben Dias, o Benfica entrou num estado de profunda desorientação defensiva, patente sobretudo no lado direito. Colocado no lado direito, Pizzi nunca se entendeu com André Almeida para controlar os movimentos interiores de Mantalos e as subidas de Hult, que a dada altura parecia um lateral de classe mundial, tantos os desequilíbrios que consegue criar, incluindo a assistência para o primeiro golo.

Pizzi e André Almeida nunca se entenderam relativamente ao posicionamento defensivo. Nunca ficou claro quem acompanhava os movimentos interiores do médio-ala e as subidas do lateral.

Perante a assustadora simplicidade com que o AEK explorava o lado esquerdo do ataque, Rui Vitória decidiu tirar Pizzi e lançar Alfa Semedo, deixando Gedson a fechar o lado direito. A equipa ainda estava a adaptar-se às mudanças quando sofreu o golo do empate.

Pouco depois Odysseas assinou o ponto alto da sua exibição, ao negar o golo a Klonaridis, e como que a lançar o golo de Alfa Semedo, que surgiria dois minutos depois. Só aí o Benfica entrou alguma estabilidade. Mais pelo efeito psicológico do remate certeiro do guineense do que propriamente pela capacidade de adaptação às circunstâncias do jogo.