O futebol português tem um gravíssimo problema para resolver. Um ato recorrente que mancha os espetáculos nos diversos estádios pelo país afora. Um mal digno de discussões profundas e revolta generalizada das principais entidades esportivas.

Poderíamos estar falando de racismo. Deveríamos, inclusive, estar falando de racismo. Mas trata-se de pirotecnia. Sim, pirotecnia. Pelo menos é assim que o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol e também a Liga Portuguesa de Futebol costumam pensar.

Na visão de alguns dirigentes, o vergonhoso cálculo é simples: os insultos racistas sofridos por Sandro Cruz na temporada passada valem quatro vezes menos (850 euros para o Rio Ave) do que arremessos de artefatos pirotécnicos num jogo da primeira divisão (3570 euros para o Sporting).

As prioridades estão muito bem definidas. Não foi o próprio Pedro Proença a dizer recentemente que «devemos refletir sobre a facilidade como a pirotecnia entra nos estádios»? Depois, se houver tempo, refletimos sobre a facilidade como se persegue jogadores pretos nos mesmos estádios.

Não aprendemos praticamente nada com o que aconteceu com Moussa Marega. Tampouco com Alcindo Monteiro. Com Wilson Neto. Com Giovani Rodrigues. Com Bruno Candé. Para não falar de George Floyd e tantos outros.

Confeccionar camisas com «Racismo Não» e prestar homenagens de um minuto de silêncio é muito fácil. Difícil mesmo é aprender com os erros do passado e, especialmente, mudar uma mentalidade racista, homofóbica e xenófoba.

A pirotecnia fere e pode matar. O racismo aniquila.

* Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil