«Portugal tem treinadores melhores» é uma verdade muitas vezes indiscutível. Porém, dita sem qualquer análise aprofundada e tão somente para inferiorizar quem vem de fora, tem quase sempre um traço bem característico: xenofobia. Ora escondido, ora explícito.

Ninguém contesta a nacionalidade de um empregado doméstico quando vê a casa uma bagunça e corre para agendar uma faxina. Também não discute o país de origem de uma manicure, de um barbeiro, porteiro ou limpador de carros.

Agora, quando o cargo em questão é de alto reconhecimento, impacto e visibilidade, seja dentro ou fora do futebol, a chuva de preconceitos e ignorância causa mais traumas e feridas do que os temporais que recentemente geraram caos em algumas cidades portuguesas.

Podemos e devemos avaliar as credenciais e as características de Roberto Martínez. Se combina ou não com o novo projeto. O que fez ou deixou de fazer nos quase sete anos em que comandou a melhor geração belga de sempre. Ser espanhol ou não jamais pode entrar na equação.

É preciso também considerar as (boas) opções portuguesas livres ou dispostas a deixar nesta altura o dia a dia de um clube para assumir uma seleção. São desafios e ambições diferentes. Nem todos querem, o que é totalmente compreensível. José Mourinho, por exemplo, optou por seguir na Roma.

Portugal tinha nomes interessantes no mercado quando o Benfica contratou Roger Schmidt. A escolha tem se provado cada vez mais certeira, visto os resultados nacionais e internacionais. O sucesso imediato do alemão não diminui em nada as qualidades de Sérgio Conceição e Ruben Amorim. Juntos, tornam o futebol português mais atraente e competitivo.

Um país outrora colonizador que anualmente acolhe milhares de estrangeiros e vê na mesma proporção a emigração de diversos filhos e filhas deveria olhar para o sucessor de Fernando Santos como alguém que veio para aprender e ensinar. Para somar. Não veio para roubar o emprego de ninguém.

* Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil