E terminou a primeira volta. 17 jornadas, 153 jogos, 13770 minutos, mais descontos que têm todo o direito de cá aparecer porque sem eles a Liga era ligeiramente diferente por esta altura. O FC Porto é capaz de estar de acordo, por exemplo.

O Benfica é campeão de inverno, o que de acordo com inúmeros estudos significa que será campeão no final e de acordo com outros tantos significa que não significa nada.Traduzindo: estamos a meio e o Benfica vai à frente.

Parece-me natural. Não é propriamente um exército contra um grupo de miúdos armados com fisgas, mas a forma como resistiu aos vários feridos em combate, mais do que qualquer outro esquadrão, prova que têm artilharia sem igual. O que o belicismo anterior quer dizer é que o Benfica tem o melhor plantel, mesmo com Carrillo numa espécie de férias prolongadas, e, com quatro pontos de avanço e já mais perto da máxima força, terá de ser muito incompetente para não ser campeão.

Claro que há um problema que o decorrer da competição poderá agravar: aquela regra de que só jogam onze atrapalha várias vezes plantéis fartos. É mais fácil escolher entre pão e pão de ló do que quando também se junta o brioche, o folhado e a massa choux. A última jornada já deu uma amostra disso mesmo: ao tentar gerir sabores, perdeu dois pontos na amálgama.

Atrás vem o FC Porto, transformado numa espécie de Ajax. Um grupo de meninos feitos homens que defendem como homens e atacam como meninos. Quatro pontos não parece grande coisa e até fica o elogio ao líder que consegue ter o rival à vista depois de sobreviver a uma fase inédita de cinco empates seguidos, quatro deles sem golos. E apostando ocasionalmente em Laurent Depoitre. E isto com um ataque sub-20, secundado por um júnior que os resgatou do fosso com a classe de um veterano.

Se há algo que esta Liga já provou é que o FC Porto vai tentar, tentar, tentar. Até ao fim. Se falhar, do mal, o menos, é um verbo que já conhece bem.

O Sporting é a maior desilusão dos três. Investiu para ganhar o que bateu no poste na época passada. Ou passou por cima, diria Bryan Ruiz. Contratou muito, nem sempre bem, mostram os jogos. Petrovic, Meli, Castaignos, Douglas e até Markovic não são mais do que personagens secundárias nesta história.

Ter de ganhar não encaixou bem no grupo que tem o mérito de quase ter ganhado ao Real Madrid e o demérito de quase ter ganhado ao V. Guimarães, ao Nacional ou ao Desp. Chaves.

Pelo lado positivo há Bas Dost que trouxe golos e o cântico mais cool da Liga e a certeza de que Jorge Jesus continua o mesmo, o que se comprova ao olhar para a lateral esquerda da defesa.

Antes ainda do leão está o Desp. Chaves, perdão, o Sp. Braga. Que foi de José Peseiro, despedido quando estava a uns imperdoáveis dois pontos do segundo lugar, por ter sido posto fora da Liga Europa e da Taça de Portugal, competições que o Sp. Braga conquista ano sim, ano não. Jorge Simão deu um toque transmontano ao Minho e agora espera-se para ver.

Trás-os-Montes, de resto, tem tido excelente representação. Tal como o Minho, que além do Sp. Braga tem o Vitória da montanha russa Marega, que entrou a todo o gás e vai perdendo desde que a cabeça também saiu do lugar há uns meses.

Já quase todos mudaram de treinador. O Marítimo desligou PC e cresceu. O Rio Ave tirou Capucho e cresceu. O Boavista trocou um antigo craque por alguém que nunca deu um chuto que se visse e cresceu também. O Tondela continua a apostar num treinador que usa alcunha em vez de nome e, como se esperava, está na mesma. Até ver. Pelo sim, pelo não, é melhor esperar por maio para tirar conclusões.

De Nacional, Estoril e até Paços de Ferreira esperava-se mais. Feirense e Moreirense estão onde os imaginávamos. Arouca, V. Setúbal e Belenenses também, mais coisa menos coisa.

Há, portanto, mais certezas do que surpresas numa Liga que passa mais vezes na televisão, ideal para se ver alguns golos e muitas cadeiras vazias. É, enfim, igual ou, no mínimo, muito parecida com o de sempre. Ou com o de sempre das últimas décadas, para os puristas que irão apontar uma edição na década de 70 que contraria tudo o que disse.

Notam-se as marcas do tempo. Há rugas e a gravidade dita leis em zonas cirúrgicas. Nem sempre há paciência, deita-se o olhar ao vizinho, sedutor. Mas ficamos na mesma.

Não há amor como o primeiro e, digam lá, a nossa Liga tem defeitos mas é nossa. E é linda. Venham então mais 17 jornadas, 153 jogos, 13770 minutos. E atenção aos descontos.

«O GOLO DO EDER» é um espaço de opinião no Maisfutebol, do mesmo autor de «Cartão de memória».Porque há momentos que merecem a eternidade e porque nada representará melhor o futebol português, tema central dos artigos, do que o minuto 109 de Paris. Siga o autor no Twitter.