Fartei-me de olhar para o banco. Eram cinco, seis lá atrás e seis lá atrás ficavam. 6x3x1! 6x3x1! O que queria o louco do Van Gaal com aquilo. Estaria a ameaçar o Sabella, a ameaçar outro treinador com o Krul? Queria ir a penáltis outra vez? Sentiu-se, de repente, invencível? Um louco invencível a baixar as calças para nos mostrar que tinha... Esqueçam! Sem Krul onde estava a vantagem? Estaria convencido que o crime afinal compensa? Que génio louco tivemos nós neste Campeonato do Mundo! Um génio que diz que não é resultadista e que é essa a linha que o separa de outros, como o antigo pupilo Mourinho. E depois faz isto! E depois arma isto. Jogámos como pequeninos frente a um adversário do nosso mundo, com um treinador que toda a gente contesta. Eu sei que ele acredita no contra-ataque, e que aquela goleada à Espanha ainda o convenceu mais, mas que raio... Eles não foram parvos. Melhor fosse se nos tivesse tocado o Brasil. Ou até a Alemanha. Aí sim, tudo isto faria sentido. Mas esta Argentina tem lastro atrás, raramente se desequilibra. E, meu Deus, que jogo fez o Mascherano! E é ele que prova a minha teoria. Percebeu que o Demichelis ia ficar para trás e eu ia ficar à frente do guarda-redes. Ele, que estava mais longe, é que os contornou e veio fazer o tackle que prova que estou certo. Tivemos uma oportunidade e falhámos. Falhei, falhámos todos, e o Van Gaal falhou comigo. Uma oportunidade! Mesmo com os ajustes. Fiquei à espera de ver o Krul a aquecer. Fiquei à espera de um sinal de que o jogo estava controlado, que era tudo um plano para um bem maior. Mas vi o Van Persie a sair e o Huntelaar no lugar dele, e percebi que desta vez não havia nada na manga. Ou, se havia, foi obrigado a abdicar. Dependíamos da sorte, de nós e do Cillessen, que todos sabiam que não é o nosso melhor a defender dos 11 metros. Será sequer o segundo melhor? O nosso treinador tinha-nos deixado sozinhos no mundo. Sozinhos numa meia-final do Campeonato do Mundo! Era agora que devias ter baixado as calças, ó Van Gaal!

«Agora que já esqueceram o Barbosa» (aka  «Não crucifiquem mais o Barbosa») é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo. É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo» . O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na MFTotal. Pode segui-lo no  Twitter  ou no  Facebook.




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