Caro leitor, welcome à minha crónica.
 
Vamos lá? Let's go?
 
Então e aquele tempo em que Vale e Azevedo quis ser Vale and Azevedo? Tal como Martin Luther King, o antigo presidente do Benfica tinha um sonho. Um Benfica mais british, mais pontual, de chapéu de coco e chávena de chá. Um Benfica, enfim, mais Beinfica.
 
Antes de experimentar, ele próprio, a agitação de Londres, trouxe-a até à Luz. Braço direito? Graeme Souness, um escocês que, fora do Glasgow Rangers, colecionara insucessos e polémicas, como quando achou boa ideia colocar uma bandeira do seu Galatasaray no centro do relvado do Fenerbahce, depois de ganhar a Taça. Gerou o caos, claro. Os turcos não têm fama de simpáticos.
 
Adiante.
 
Vale e Azevedo sonhou, Souness quis e a obra nasceu. Os anos 90 não são de gratas memórias para o clube da Luz, mas o Benfica britânico será a mais profunda. Com uma peculiar visão do mercado que não passava as fronteiras da Grã-Bretanha, Souness foi trazendo para a Luz os reforços que pedia e que vinham equilibrar uma equipa que, várias vezes, criticou em público.
 
Scott Minto, defesa esquerdo, atual comentador em Inglaterra, nem era dos piores. Veio antes de Souness. Coincidência?
 
Saiu Minto, o Benfica precisava de outro lateral esquerdo e escolheu mais um britânico. Harkness, o Manel possível na altura. Até no nome que adotou para a camisola: Steve. Apenas e só. Steve poderia, no fundo, ter a alcunha de «o humilde». Era uma forma de alimentar o sonho do comum adepto, nas conversas entre bifanas: se o Steve pode, por que não nós?
 
Gary Charles chegou, viu e lesionou-se. Quatro jogos e o Benfica só ganhou um. Nada de especial para contar.
 
Muito mais há a dizer de Michael Thomas, o « Big Balls». Herói do Arsenal, exemplo a seguir em Portugal por todos os miúdos que acham que o futebol é um toque para o lado. Ou para trás. Colecionou só para si todas as críticas que mais tarde seriam divididas por Paulo Almeida, Beto ou Bynia.
 
Ainda houve Mark Pembridge, um extremo vertical até fazer a diagonal de volta a Inglaterra. Dean Saunders, quase a esgotar o prazo de validade. Brian Deane, que ainda rendeu uns cobres aos cofres da Luz. O melhor de todos, por ventura.
 
Pelo meio Souness. Muito Souness. Souness de mais. O homem que dizia que «infelizmente, qualquer burro tem opinião sobre futebol» não conseguiu mostrar ser assim tão diferente.

Saiu corrido a lenços brancos, depois de humilhante derrota em casa com o Boavista. Um 13 de maio na Luz que, se já era utilizado, ficou mais popular que nunca. Uma resposta de luva (ou lenço) branca a alguém que, mais do que uma vez, usou a «F-word» na direção dos adeptos, rezam as crónicas da altura.
 
Teve o apoio de Vale e Azevedo até ao final. Até ser insustentável. Veio Heynckes, o Benfica deixou-se de tiques britânicos mas não melhorou assim tanto, até pela frágil situação financeira. Era preciso tempo para curar as feridas.
 
Souness, esse, depois de voltar à sua amada Grã-Bretanha revoltou-se contra o ex-patrão: «Ele é perigoso. Mente enquanto te olha nos olhos».
 
A dangerous man. Uhhhh. Coisa estranha num advogado, não?

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