«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Para os velhacos do Diário Carioca - auto-intitulados renovadores do jornalismo brasileiro nos anos 50 -, a objetividade significava a eliminação de qualquer «bijuteria verbal, como se o jornal nada tivesse a ver com a notícia».

O supérfluo, a paixão, a exclamação, nenhum deles teria lugar nessa publicação. Muito menos no título e no lead. Para os defensores dessa «escrita desalmada» apenas era importante o «quando, como e porquê».

O génio de Nelson Rodrigues, «passional como uma viúva italiana», na brilhante descrição de Ruy Castro, considerava esse limite «um empobrecimento da notícia», com exemplos deliciosos. Atentem.

«Se já fosse assim naquele tempo, os Dez Mandamentos teriam sido reduzidos a cinco».

Sem mais, o mais notável autor brasileiro de todos os tempos decretou a sentença: «esses são os idiotas da objetividade».

Recordo a pungente declaração de Nelson para chegar a outra objetividade. À objetividade na frente da baliza, na seminal hora do remate, no tão ansiado momento da finalização.

O GOLO. Outro tema, de resto, particularmente caro ao profeta tricolor.

Nelson, alérgico visceral ao «leitor de mármore», teria certamente outra visão se o foco fosse o resultado do seu Fluminense. Ali, na decisão de todas as decisões, o Anjo Pornográfico e todos os que amam um clube pensam na mesma coisa: triunfo.

Vem isto a propósito da recente epidemia de declarações dos treinadores portugueses sobre a «falta de finalização».

«Só faltaram os golos», «fizemos tudo bem até à baliza adversária», «não tivemos sorte em frente à baliza», desculpas e justificações repetidas ad nauseam, como se as suas equipas não fossem profissionais e não tivessem tempo para treinar diariamente tudo o que envolve o jogo.

Como se o golo não fosse o comandante supremo deste maravilhoso jogo.

O que é, aliás, um problema de finalização? É só falta de golos ou o sintoma sugere algo mais profundo, mais grave? Não estará relacionado com questões técnicas, com a forma como o remate é preparado, com os movimentos dos atletas no último terço?

Se uma equipa faz tudo bem e só não ganha por «problemas de finalização», então, caro Nelson, vamos lá a ser objetivos. Objetivamente, é isto: é impossível que essa equipa esteja a fazer tudo bem.

Michael Bradley de «Chuteiras Pretas»

PS: boas notícias na MLS
A Major League Soccer está a adquirir uma dimensão mediática interessante e a atrair nomes europeus fortes. Quase todos em final de carreira, é verdade.

De Toronto chega-nos um exemplo de muito bom gosto. Michael Bradley, internacional pelos EUA, passeia classe e discrição nos relvados sintéticos e naturais da MLS. De CHUTEIRAS PRETAS, pois claro.

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».