«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Tão determinante como definição do campeão da Liga, senhoras e senhores, é a descontaminação do ecossistema do futebol nacional.

Se falharmos uma vez mais, não haverá nem justiça, e muito menos convicção, no tributo aos vencedores. O pilar essencial da competição – a crença na imparcialidade e igualdade de direitos/deveres – ficará irremediavelmente entregue ao canto escuro da desconfiança.

Sobrarão os protestos e a revolta. E as suspeitas, claro. Provavelmente fechadas em malas negras.

Na retórica, todos os clubes clamam o mesmo: honra, justiça, sacrifício, trabalho. A lengalenga é bonita, sim senhor, mas não passa disso mesmo. Uma lengalenga cantada para inebriar ad nauseam os insuspeitos do costume.

Refiro-me aos adeptos que abraçam cegamente o que os trágicos dirigentes e os desavergonhados ‘cartilheiros’ sopram aos quatro ventos, tomando por verdades absolutas coisas que são absolutamente pantanosas. Nojentas.

O que distingue os clubes são as pessoas. Os emblemas, as cores, os estádios, tudo isso, mas sobretudo as pessoas. O nível das pessoas, a seriedade das pessoas. E neste ecossistema multicolor, poucas se salvam. A propósito disto, vale a pena ler este artigo do insuspeito El País.

Há ainda algumas pessoas sérias, copiosamente sérias, e delas falarei numa próxima crónica. Por ora, as más notícias.

Há os que falam vezes a mais e se enredam nas próprias palavras. Normalmente truculentas. Há os que se abrigam em passados vencedores, esmagadores, e protelam a hora de saída. Há os que escorregam na mais simples casca de banana gramatical e precisam de legendas.

E há aqueles, os mais influentes, que erguem um exército para os trabalhos forçados e se refastelam na cadeira de imperador. Aparentemente imunes ao barulho, ao escândalo e à epidemia de invertebrados.

Vendem uma imagem que não é real e, sempre que descem ao nosso mundo, colocam-se ao nível dos demais. Tornam-se tão rudimentares quanto os oponentes e cometem os erros mais previsíveis.

Entram em salas de imprensa, falam alto, comentam imagens polémicas e disparam, como se ostentassem o dom da inimputabilidade, «Coitado do Artur».

Não é isto que queremos, pois não?

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».