A Técnica da Força é um espaço de opinião quinzenal de Francisco David Ferreira, jornalista da TVI. Todas as terças-feiras.

Há uns dias, o colombiano era um exemplo de entrega, classe e sacrifício. Falhou em penalty e caiu-lhe o mundo em cima. Que a moda das teorias de conspiração termine finalmente.

Estou certo que Jackson Martínez não precisa de mim nem da minha opinião para se defender. O que vou dizer sobre Jackson pode aplicar-se a qualquer outro jogador, sublinho. E aviso, estas minhas palavras estão absolutamente ligadas ao meu último artigo: interpretem como uma continuação.

Já muito se tinha escrito sobre Jackson, o goleador colombiano, esta temporada. O evidente sacrifício físico que faz todas as semanas foi enaltecido publicamente por muitos. A aplicação com que se entrega ao jogo, mesmo sabendo do complexo historial de lesões recentes, mereceu elogios e admiração de tantos outros. É justo. Porque é notório que Martínez está longe da disponibilidade e frescura de outros anos. Mas, ainda assim, o ano passado apontou nove golos, e este ano soma três em todas as competições. Mais do que os golos, impressiona a capacidade de sofrimento de um jogador que, imaginamos todos, tem estabilidade financeira suficiente para gozar um período menos exigente nesta fase da carreira.

Mas depois Jackson falhou um penalty no Dragão. E é a partir daí que percebemos que o nosso futebol está mesmo doente.

Nas redes sociais, foi sacrificado: falhou de propósito, nunca iria marcar ao antigo clube FC Porto. Então não se vê que falhou mesmo ali de propósito, exclama-se. Nem ficou aborrecido por falhar, diz-se. Um jogador que foi sempre elogiado pela sua postura, entrega e profissionalismo (até por parte de colegas de profissão), passou a ser um vendido, um vergonhoso vértice numa enorme conspiração eterna que envolve os candidatos ao título.

Houve quem sugerisse que Jackson devia ter sido protegido e ser outro jogador do Portimonense a marcar aquele penalty. E isso é que preocupa: quando se chega ao ponto de dizermos que um jogador deve ser protegido porque todo e qualquer erro desperta imediatamente um chorrilho de insinuações e insultos do outro lado da barricada, então qual é a verdade desportiva que tanto se fala?

Jackson não tem um grande registo a marcar penáltis, analisou-se nos dias seguintes. Mas é experiente, marca golos, é uma das figuras do clube algarvio. Vamos imaginar que avança Lucas Possignolo para bater o penalty. Falha. O que se diria? Fácil: então e não bateu o Jackson porquê? Recusou-se? Vergonha! 

Este clima de suspeição é inaceitável. Alguns jogadores já confessaram que esta constante perseguição os perturba e os faz querer sair do nosso campeonato. Pior, não tem sinal de acalmar em breve. E infelizmente acredito que a suspeição não seria muito diferente se fosse o jogador X a falhar um penálti contra o clube Y. Acho que vocês entendem.

Os jogadores falham. Vamos ter que saber conviver com isso de uma forma muito mais lógica e racional, é óbvio. Até porque o próximo a falhar um penalty num jogo que envolva candidatos ao título já sabe o que o espera… e essa não pode ser a real «angústia do jogador no momento do penálti», como diria Peter Handke.