«DRIBLE DA VACA» é um espaço de Opinião do jornalista Bruno Andrade. Pode seguir o autor no Twitter. O que é o «DRIBLE DA VACA»? Jogada no futebol que ocorre quando o jogador finta o seu adversário tocando a bola por um lado e passando por ele pelo outro.

Eu sou do Benfica quando Jorge Jesus consegue tirar de determinados jogadores aquilo que nem os próprios acreditavam que têm. Quando Otamendi prova que é possível ser respeitado, mesmo tendo no vitorioso currículo um passado marcante no rival. Quando Lucas Veríssimo chega e prontamente se impõe como absoluto na defesa. Quando Diogo Gonçalves deixa o ataque para ser uma grata surpresa na lateral. Quando Weigl dá sinais claros que, de fato, merece tamanho investimento feito no mercado. Quando Everton cresce de produção e faz lembrar aquele atacante acima da média dos tempos do Brasil. Quando Seferovic, mais uma vez, cala os críticos e briga pela artilharia da Liga até a última rodada.

Eu sou do FC Porto quando Sérgio Conceição lê - como sempre - na perfeição o que é ser portista. Quando um time, até certo ponto desacreditado, faz bonito na Liga dos Campeões, batendo de frente com Manchester City, Juventus e Chelsea. Quando Marchesín fecha o gol com grandes defesas. Quando Pepe, aos 38 anos, corre e desarma com a mesma disposição e intensidade de um moleque de 18 anos. Quando Sérgio Oliveira provoca um rival, mas sem incitar a violência. Quando Corona, de forma habitual, brilha como desequilibrador, independentemente da posição em campo. Quando Marega enfrenta sem medo o racismo e mostra, batendo no braço, todo o orgulho da cor que tem.

Eu sou do Sp. Braga quando Carlos Carvalhal entrega ao público aquele que, por durante muito tempo, foi o futebol mais ofensivo e atraente de Portugal. Quando David Carmo sofre uma lesão gravíssima, mas finaliza a temporada com um sorriso estampado e a levantar o troféu da Taça de Portugal. Quando Al Musrati limpa tudo no meio-campo e salta aos olhos de diversos interessados. Quando Ricardo Horta não desiste de uma jogada e vai para cima dos adversários. Quando Sporar deixa a rivalidade de lado e envia mensagens carinhosas aos ex-companheiros de Sporting. Quando um clube do Minho garante, dentro e fora do campo, que pode, sem sombra de dúvidas, sonhar com um lugar entre os maiores.

Eu sou do Sporting quando uma equipe que está fora do lote de favoritas, e constantemente foge do posto de candidata, acaba por ser campeã, encerrando assim um incômodo jejum de 19 anos. Quando Ruben Amorim, numa ascensão incrível na carreira, abre a boca para falar em alto nível com a imprensa. Quando o remanescente Coates é um gigante decisivo. Quando Nuno Mendes «nasce, cresce e se reproduz» na lateral. Quando Palhinha passa de «negociável» a jogador de seleção portuguesa. Quando João Mário volta para casa e, em poucos meses, faz história. Quando Pedro Gonçalves supera todas as expectativas e termina a Liga como goleador máximo, sendo, logo no dia seguinte, coroado com a convocação inédita à Eurocopa.

Eu sou do Paços de Ferreira quando Pepa se consolida como treinador de alto nível e com um futuro brilhante. Eu sou do Santa Clara quando os Açores entram no mapa da Conference League. Eu sou do Vitória de Guimarães quando fico deliciado ao ver o icônico Ricardo Quaresma a desfiliar nos gramados do país de origem. Enfim, eu sou de todos e quando bem entender.

Eu sou aquilo que tu, agora no bom português de Portugal, até para ser o mais claro possível, geralmente tanto odeias e persegues no dia a dia: mais do que um jornalista (brasileiro), um verdadeiro adepto da essência do futebol.

* Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil.