Percebo o desânimo de Rui Jorge. Não se faz.
Portugal, que se qualificou com brilho e, acredito, era um dos grandes candidatos a uma medalha no Rio de Janeiro, apresenta-se com uma seleção de segunda ou terceira linha na maior festa desportiva do planeta.
«Suplicámos por alguns jogadores», disse o treinador. Inacreditável.
O ponto de partida é claramente mais baixo do que o expectável e, obrigatoriamente, o discurso teria de mudar. Olho para Rui Jorge e para o trajecto da seleção que levou o país até aos Jogos, e percebo que doa. Dói-nos a todos, excepto aos clubes, que obviamente defendem interesses próprios.
Também acredito que esta Seleção Olímpica tudo fará para não envergonhar.
É disso que se trata: passou-se do lutar pela glória para o não envergonhar. E, isso conseguido, ver depois no que dá.
Não concordo, no entanto, com uma das ideias do selecionador: o futebol, nesta conjuntura, não faz falta aos Jogos.
Esta data, que coincide com o início das épocas dos clubes, que não é FIFA e que como tal a nada os obriga, é o maior obstáculo para que se enfrente o torneio com seriedade. E não irá mudar.
Estará, por outro lado, a FIFA interessada em ir contra os clubes e fazer do torneio uma obrigatoriedade para a libertação dos atletas? Não parece. No fundo, o organismo quer deixar tudo como está. Num meio-termo que não deixa cair o futebol de entre as outras modalidades, mas que também não lhe dá a força e o interesse que poderia realmente ter.
Nesse sentido, numa festa tão grande e abrangente, com tanta cor e interesse para lá da bola-no-pé, será que este futebol dos pequeninos é assim tão necessário?
Tenho dúvidas ainda que um jogador, sobretudo aqueles que ainda viveram pouco da sua vida de futebolista e muito pouco de grandes eventos, se recuse a ir aos Jogos Olímpicos. Antes de penalizá-los ou crucificá-los fará sentido perceber o contexto, quando este se apresenta pouco claro, como em algumas situações.
Além de que muitos, jovens, também precisem de ser vistos nesse mesmo contexto. São miúdos, à procura de afirmação, sujeitos a pressões de vários lados, e mais susceptíveis ao erro.
LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».