Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol. 

Eu também não vi ninguém festejar recordes nos Aliados. Durante anos, também não vi por lá grandes celebrações, mesmo quando o FC Porto ganhava títulos.

Coisa de política de alguém que quer ser primeiro-ministro, mas que responde a jornalistas portugueses em alemão quando lhe dá jeito evitar perguntas pertinentes.

Já Sérgio Conceição nunca evita questões. Pode gostar-se ou não do estilo, mas o treinador do FC Porto tem a coerência de ser frontal nas abordagens. O que é diferente de estar correto, já agora.

Nesta segunda-feira, não se coibiu de atirar de frente um «força Lazio», por exemplo. Mesmo que isso possa ser colado numa qualquer parede em Trigoria, como faria André Villas-Boas no Olival, se Aldair ou Thern treinassem os romanos e soltassem um «força Benfica», no exato dia em que um sorteio da UEFA colocava Roma e FC Porto frente a frente.

O vencedor do 25º título de campeão nacional voltou outra vez à atualidade portista nesta semana, porque o FC Porto de Sérgio Conceição pode igualar-lhe o registo de 14 triunfos consecutivos e ficar a um do recorde de Artur Jorge.

O atual líder azul e branco disse que nunca viu ninguém celebrar recordes nos Aliados, mas foi precisamente pela Baixa do Porto que Villas-Boas quis passar quando na caminhada de 2010/11 bateu alguns.

O treinador da cadeira de sonho revelou que usou as marcas históricas para chegar mais longe. Porque lhe permitia pôr metas e objetivos na cabeça de jogadores – inclusive (sobretudo?) depois de eles já serem campeões e antes de vencerem a Liga Europa.

Nos Aliados, portanto, festejam-se títulos, mas no balneário um recorde histórico pode ser uma pequena conquista do grupo no final de um ciclo (fim do ano civil?) que, aliada a outra pequena meta e a mais outra, podem pôr uma multidão de gente a caminho da Baixa.

Villas-Boas usava marcas históricas como «chavões motivacionais», enquanto Conceição, publicamente - e repita-se o publicamente - desvaloriza registos. É uma questão de se usar os números quando eles dão jeito, mas que, pelo que conhecemos publicamente - e repita-se o publicamente -  nos apontam dois caminhos diferentes para esse sítio que agora é de Moreira, um dia foi de Rio, mas que nunca deixou de ser dos adeptos do FC Porto em dia de festa.

Eles lá estarão de novo se houver título, pouco importando-se se houve ou não um qualquer recorde na temporada. Recordarão que lá foram e na estrada da memória voltarão lá, mas ainda mais alegres se um dia alguém lhes disser, numa entrevista ao canal do clube, que os recordes batidos eram metas definidas, serviram para ir mais além e levá-los até ali.

Os recordes não são títulos, mas fazem com que eles se prolonguem no sitio onde se guardam as melhores recordações.

[artigo originalmente publicado às 23h51, 17-12-2018]

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.