Quem me lê, sabe que já por várias vezes critiquei Frederico Varandas. Também o elogiei, por exemplo na coragem de herói que teve para enfrentar as claques e abrir uma guerra que para mim fez sentido, mas sobretudo critiquei-o, devido à política desportiva do Sporting nas últimas épocas.

Não estou arrependido, acho que naquela altura as críticas eram justas, mas a esta distância consigo perceber que foram erros necessários: fizeram parte do crescimento do presidente leonino.

Continuo a achar que fez apostas demasiado arriscadas, em jogadores com zero conhecimento do futebol português, que gastou demasiado dinheiro com pouco retorno, mas compreendo que tudo isso fez parte de um processo: tal como todos nós, também Frederico Varandas precisou de tempo para crescer, para aprender, para se tornar um dirigente melhor.

O título acabadinho de conquistar não teria sido provavelmente possível se por detrás dele não tivesse ficado uma série de equívocos que permitiram à atual direção melhorar em todas os aspetos.

Aqui chegados, portanto, acho que é da mais elementar justiça fazer-lhe uma vénia. Para além de Ruben Amorim, sobre o qual já tudo foi dito aqui, para além dos jogadores, para além da estrelinha, da covid, de Santa Rita ou de Nossa Senhora do Caravaggio, é absolutamente fundamental reconhecer o mérito de Frederico Varandas na temporada leonina.

Eu sou o primeiro a fazê-lo.

E faço-o sobretudo porque identifico claramente cinco pontos em que o Sporting se tornou um clube mais forte, mais moderno, mais sólido e agressivo.

1. A contratação de Ruben Amorim foi um golpe de mercado fundamental. Os sinais de que se tratava de um treinador de qualidade estavam lá, mas eram apenas isso: sinais. É indesmentível que Frederico Varandas teve visão, teve arrojo, teve uma determinação de líder. Apostou provavelmente tudo, teve coragem e ganhou. Porque Ruben Amorim foi exatamente o que o Sporting precisava: competência, criatividade, conhecimento e êxito. Trouxe com ele uma ideia clara, teve o apoio da estrutura e construiu um campeão.

2. É indesmentível que a época foi bem preparada. O Sporting atacou o mercado com segurança, dando prioridade a jogadores do futebol português: cinco dos oito reforços jogavam ou conheciam o campeonato nacional. Mais importante do que isso, o Sporting atacou o mercado com tempo. A equipa iniciou a pré-época a 17 de agosto e três dias depois já tinha o plantel praticamente fechado, com as contratações de Porro, Antunes, Feddal, Pedro Gonçalves, Nuno Santos e Adan. Apenas João Mário e Tabata chegaram mais tarde.

3. Não as contei, mas imagino que Frederico Varandas não tenha falado publicamente mais de umas cinco vezes esta temporada. Aliás, se houve alguma coisa evidente neste Sporting foi a consonância de opiniões: o clube tinha sempre a mesma opinião, geralmente expressa na voz do treinador. O presidente só surgiu em momentos mais críticos e na defesa do grupo. Não criou conflitos estéreis, não fez barulho nas vitórias na justiça desportiva, nem sequer ocupou o palco nos festejos do título. Sempre discreto, deixou que o sucesso falasse por ele. O que é uma prova de maturidade tremenda, e raramente vista em Portugal.

4. O Sporting é hoje também um clube mais forte também a nível das infraestruturas. Essa foi aliás uma preocupação demonstrada por Frederico Varandas logo que chegou à presidência: recuperar parte da grandeza física do clube. Começou pela Academia, reformulou o decrépito andar de escritórios da SAD, está a alterar as bancadas de Alvalade. Aos poucos, e perante as contingências de uma situação financeira que foi sempre muito complicada, o Sporting vai recuperando o orgulho no que é seu, e que estava de facto muito velho.

5. A promoção de André Bernardo dentro da estrutura da SAD foi um movimento decisivo na modernização do plano estratégico. O Sporting é hoje um clube muito forte ao nível da comunicação. O Inside Sporting e o ADN de Leão, por exemplo, são do que melhor se faz em Portugal ao nível da comunicação institucional, não só por trazerem novas linguagens ao mundo do futebol, mas sobretudo por levarem o futebol para fora dos canais convencionais, conseguindo chegar a novos públicos e alargando o auditório da marca. Alguns vídeos de André Igreja são sétima arte.

Perante isto, parece-me indesmentível que o Sporting é hoje um clube mais bem preparado para o futuro. Já está ao nível dos rivais? Provavelmente ainda não. O FC Porto goza de uma estabilidade de ferro e o Benfica vai continuando a respirar saúde financeira. O Sporting ainda não tem uma, nem outra.

É preciso tempo e paciência para construir um império. A boa notícia é que o clube está no caminho certo: pelo menos já deu a curva no destino.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, editor-chefe do Maisfutebol