«DRIBLE DA VACA» é um espaço de Opinião do jornalista Bruno Andrade. Pode seguir o autor no Twitter. O que é o «DRIBLE DA VACA»? Jogada no futebol que ocorre quando o jogador finta o seu adversário tocando a bola por um lado e passando por ele pelo outro.

A entrevista de Pedrinho ao jornal A Bola, publicada na edição impressa desta terça-feira, merece uma reflexão aprofundada. Jorge Jesus é indiscutivelmente um treinador vitorioso, acima da média e que muitas vezes consegue extrair dos jogadores algo que outros não conseguem. Porém, há o lado negativo de tamanha exigência.

Nem todo jogador, principalmente sendo jovem, lida com facilidade ao ser constantemente cobrado e criticado, muitas vezes até de forma pública. Há casos e casos. Obviamente, o atleta também tem a sua parcela de culpa, mas aí entra - ou deveria entrar - a parte humana e sensível de quem ensina (ou manda?).

Coincidentemente (ou não), Jorge Jesus historicamente prefere jogadores mais velhos e/ou ir ao mercado atrás de reforços mais rodados. Falta claramente paciência com a juventude e, consequentemente, os erros. Moldar jovens talentos talvez seja mais difícil do que transformar "discutíveis" em "elogiáveis", como aconteceu com Matic no Benfica e Willian Arão no Flamengo.

"É um treinador com ideias fantásticas, mas muitas vezes não desempenhamos o que queremos por causa das cobranças dele", disse Pedrinho, agora no Shakhtar Donetsk. "Sentia que não havia aquela confiança no meu futebol, vontade de contar comigo de verdade", completou.

O desabafo do avançado brasileiro de 23 anos, que custou cerca de 18 milhões de euros aos cofres dos encarnados, é forte e preocupante. Não é uma questão de polemizar ou procurar um único culpado, mas, sim, de abrir uma discussão (de alto nível e respeitosa) sobre saúde mental.

Anualmente destacamos - e bem - jogadores, muitos renomados, como Filipe Luís e Luisão, que afirmam que nunca trabalharam com um profissional como Jorge Jesus. Nunca haviam aprendido tanto. Não podemos, no entanto, fechar os olhos para aqueles que não vingaram nas mãos do veterano treinador. Como? Por quê?

Viver no mundo da bola e dos grandes palcos é ter de lidar diariamente com a pressão. Fugir da responsabilidade não é uma opção. Pelo dinheiro em jogo, o futebol não pode ser somente um mar de rosas. Ponto. Mas quem disse que todos os jogadores são máquinas programadas para vencer? Cristiano Ronaldo só há um.

Técnica e tática são fundamentais, sempre serão a base do jogo, mas o lado psicológico é cada vez mais importante, especialmente numa realidade social cruel, massacrante e perseguidora. Não existe piedade nos dias de hoje.

*Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil.