O que diz a um tipo que põe o nosso suplente a aquecer ? Não estamos lesionados, não demos um frango. E que, a um minuto de nos podermos tornar heróis, de escrevermos uma página da história, manda erguer a placa com o nosso número? Olhamos e pensamos mil coisas. É impossível não pensar. Seria desumano. Armaram-te uma cilada, Cillessen! Chamamos-lhe coisas feias, que fazem eco na nossa cabeça, mas que esmorecem ao chegar à boca. O que lhe respondemos quando passamos por ele e ele aperta-nos as mãos e diz: bom trabalho? O que dizemos ao nosso colega que, sem fazer uma defesa, vai para a baliza ?  No andebol faz sentido, mas no futebol... Que raio de invenção é essa ?  É o general Van Gaal e não dizemos nada. Engolimos em seco. Tentamos que a cara não seja feia. Ou será pior. Com que critério se toma uma decisão daquelas, inédita. Pelo menos, não me lembro de mais ninguém fazer o mesmo. O Krul é melhor guarda-redes para os penáltis do que eu? Ele defendeu dois em 20 em quatro anos! Dois em vinte! Quem sabe se eu não os teria defendido também neste jogo. Não foram assim tão difíceis. Era só esperar, aguentar e tentar reagir a tempo. Não lhe vou perguntar! Não vou pedir explicações. Parece que todos sabiam menos eu. Não me disseram nada. Não me prepararam. E, a acabar, a placa com o meu número, a vermelho. Ele que mexe na equipa como quem joga xadrez, que tem um ego maior do que o Manchester United inteiro, mandou erguer o meu número para fazer história, e o mundo ficou a pensar que eu sou um fraco. Que não sei defender remates dos 11 metros! Só sirvo para o que é mundano. Foi às minhas custas, mas eu sei o que ele quis fazer. Sei, porque ele é assim. Fez um xeque ao rei. Se guardou uma substituição em 120 minutos para o guarda-redes é porque ele é bom. Pensaram todos! E apostamos que o Krul vai defender. Disseram todos. Se defender e ganhar é Deus. Van Genius! Claro! O selecionador deles teve de lidar com uma situação nova. Não havia estudo que lhe valesse. Sorte ? Fezada Têm a certeza ? Vai-te preparando, De Gea, que o Lindegaard começou há pouco a aquecer!

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.     É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na     MFTotal. Pode segui-lo no     Twitter ou no    Facebook   .