Não sei para que vim. Estou a ver o Mundial a passar ao largo sem lhe poder tocar. A bola só a vejo com binóculos, ou nos treinos. A baliza nem sei onde pára, de tão longe que está. Joga o Lavezzi, joga o Biglia, joga o Palacio e o Ricky Alvarez, mas não o Enzo. Joga o Gago, que está longe de ser O GAGO, aquele projeto de Redondo que chegou a entusiasmar. Até já o Maxi jogou. O Maxi que diziam estar acabado há muito tempo. El Mago Alejandro não conhece o outro lado de mim. Só aquele que treinou nos Estudiantes, que jogava na frente como extremo ou nas costas do avançado. Não acredita quando lhe digo que já sou outro jogador, e nem posso insistir muito porque se não for ali ainda devo ter menos hipóteses de jogar. Ainda tenho esperanças que o Jesus lhe telefone e apareça aí a mostrar três dedos - o Mascherano, eu e o Di María -porque o seu castelhano deve custar a entender. Se estiveres a ler isto, Jorge, aparece... Sabella que não nos ouça, mas já na cancha jogava ao seu ritmo, chamavam-lhe «Pachorra». Como hei-de dizer isto ? Era um falso-lento. Vocês entendem. Foi treinado por Bilardo, o que pode explicar algumas coisas, contemporâneo de Maradona e adjunto de Passarella. Mas é incapaz de ver onde eu encaixo. E quando perceber pode ser tarde de mais. É tão simples, como se a peça do puzzle tivesse caído para o chão, ficado debaixo do tapete e tentássemos todas as que vemos à nossa frente sem sucesso. É só procurar em volta, algo está errado. É preciso alguém que leve a bola, que a entregue a Messi e a Di María onde eles têm menos obstáculos. Não ali, onde precisam de saltar as raízes de todos os médios e defesas rivais. Não é o Fernando que o faz, ou o Mascherano. Como é que ele não vê? Como é que não vês, Pachorra? Jogamos mal. E não foi meia-hora, foram todos os minutos dos quatro jogos. Ganhámos porque temos tido Messi e Di María, mas ganhámos em esforço, no limite, e eu sei, todos sabemos menos ele, que vai começar a ficar mais curto. A Argentina sabe. Não se fala outra coisa nas Pampas. Uma revelação, mago! Que te apareça a santa! Não vale a pena falar de músculos e neurónios, de que estamos melhor a cada dia. A seguir vem a Bélgica e se ainda chegar para esses diabinhos teremos provavelmente a Holanda. Se foi assim com a Suíça não sabes bem o que nos espera. Ouve o teu amigo, Pachorra...

«Não crucifiquem mais o Barbosa»    é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.         É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo»   . O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na         MFTotal   . Pode segui-lo no         Twitter    ou no         Facebook   .